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O que vem a ser “home care”?

Eliana Farias
efarias@medlar.com.br
Edna Loureiro
eloureiro@medlar.com.br

Historicamente, o serviço de “home care”, surgiu para atender paliativamente os doentes que apresentam patologias crônicas e tratamentos de longa duração, com necessidade de cuidados permanentes. O custo hospitalar das internações e o declíneo da qualidade dos serviços de saúde foram fatores responsáveis pela necessidade de formar “home care” na década de 80. A experiência mundial do serviço médico domiciliar tem mostrado redução do risco de infecção hospitalar, manutenção do convívio familiar, redução no número e no custo de internações.

No Brasil, os serviços de “home care”, iniciaram há duas décadas em hospitais públicos. Na década de 90, serviços de empresas privadas foram criados. As enfermidades mais freqüentes em “home care” são aquelas advindas do progressivo envelhecimento da população, as ditas crônicas como câncer, seqüelados de AVCs, doentes de Alzheimer, escleroses (arteriais, cerebrais, musculares e múltiplas). A home care presta, também, atendimento a pacientes terminais, aos que precisam de suportes ventilatórios como enfisematosos e asmáticos, atendimento aos pacientes com HIV que não querem ser expostos publicamente.

Os serviços privados de atendimento domiciliar vêm buscando cada vez mais qualidade e controle de custos, proporcionando maior segurança no atendimento e uma parceria junto aos planos de saúde, a fim de viabilizar o custo para essa prática de atendimento no domicílio. A assistência domiciliar tem como objetivo além do tratamento dos problemas ativos, a promoção da independência e autonomia do paciente e seu cuidador, da equipe multiprofissional.

O trabalho da equipe de saúde no atendimento domiciliar compreende algumas estapas. São elas:

Fase de avaliação

 

Esta fase compreende algumas etapas a fim de identificar se o paciente é elegível para esse tipo de atendimento e qual o nível de assistência a ser prestado. São adotados os seguintes critérios de elegibilidade: dependência técnica, quadro clínico estável, ter cuidador ativo, residência favorável para se fazer internação domiciliar e ausência do risco de liminar. Apesar da empresa adotar esses critérios, o fato de um paciente não atender a todos, não significa que a internação domiciliar não acontecerá. Cada caso deve ser analisado e discutido individualmente com a equipe multiprofissional.

 

Essa fase é iniciada a partir de uma solicitação que pode ser feita pelo plano de saúde, pelo médico assistente (que acompanha o paciente no hospital), pelo familiar responsável e/ou o próprio paciente. O mais importante, nesse momento, é a anuência das três partes para se fazer a internação domiciliar. Após isso, agenda-se, então, dia, horário e local, para se fazer a “avaliação propriamente dita”. Nessa ocasião é imprescindível a presença de um familiar responsável pelo paciente, que consiga compreender e assimilar todas as informações passadas e que tenha poder decisivo para aceitar ou não esse tipo de atendimento.

 

No momento da avaliação são identificadas todas as necessidades do paciente, além dos problemas ativos a partir da consulta ao prontuário, exame físico e conversa com a família. Discute-se o caso com a equipe multiprofissional da empresa, estabelece-se um plano de cuidados inicial e elabora-se uma proposta de custo para ser enviada ao plano de saúde. No momento da avaliação o familiar e/ou paciente precisam ser bem esclarecidos em relação a todos os aspectos que envolvem a internação domiciliar, além do real objetivo desse tipo de atendimento, que é trabalhar os problemas ativos do paciente promovendo autonomia e independência dele e da família. Uma vez aceita a proposta pelo plano de saúde inicia-se a fase de implantação do paciente. É feito contato com o médico assistente, com a família, solicitado materiais, equipamentos, monta-se o prontuário e passa-se o plantão detalhado para o setor operacional. Geralmente quem faz a implantação do paciente é o enfermeiro que o avaliou.


Operação da internação domiciliar
 

É a continuidade da internação hospitalar, trabalhando a resolução dos problemas ativos identificados na avaliação e outros que possam aparecer no decorrer do atendimento, e o preparo do cuidador. Algumas informações auxiliam no processo operacional, como o levantamento do perfil social, que é de fundamental importância.

 

Através deste a empresa conhece o perfil da população atendida e consegue desenvolver sua atuação na identificação de problemas precocemente, como no caso do cuidador ativo e do risco de ações judiciais. Dados de 2003 comprovam que 70% dos pacientes atendidos pela empresa neste período foram idosos. Os cuidadores eram na grande maioria do sexo feminino, somando 85% e que cuidadores de pacientes do sexo feminino eram contratados na grande maioria (40%).

 

Para realização do trabalho é importante que o setor operacional da home care detenha o controle administrativo, técnico e de custos. A operação é organizada por blocos de atendimento que controlam a assistência em média de 30 pacientes.

 

Controle administrativo, técnico e custos

 

É responsável pelo controle de impressos que são enviados para as residências e que retornam preenchidos pelos profissionais envolvidos, para a elaboração e composição do prontuário, atualização das prescrições médicas e de enfermagem, acompanhamento do cumprimento do plano terapêutico, envio de solicitações de prorrogações aos planos de saúde e a resposta das solicitações dos mesmos, reuniões com os planos de saúde, análise dos relatórios enviados pela equipe multiprofissional.

 

O controle técnico é feito através do acompanhamento dos profissionais que realizam o atendimento, da elaboração de protocolos de atendimento e rotinas de trabalho, reuniões multiprofissionais para discussão dos casos atendidos e a resolução dos problemas ativos por parte da equipe. o controle de custos é feito mensalmente, por paciente e por plano de saúde, e através deste controle a empresa tem a real informação de quanto custa o atendimento de cada paciente, qual a receita e a margem. Com estas informações a empresa consegue renegociar tabelas com os planos de saúde, com fornecedores, ou mesmo garantir maiores benefícios aos pacientes que apresentam uma margem mais confortável.

 

O setor operacional é composto por uma equipe interna e equipe externa. A equipe interna compreende o médico coordenador, enfermeiro coordenador, enfermeiro gestor de escala, nutricionista, farmacêutico, assistente social, auxiliar de enfermagem e secretária. A equipe externa compreende o médico, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, assistente social, auxiliar/técnico de enfermagem de acordo com a necessidade técnica que o paciente apresente para o tratamento de seus problemas ativos.

Atuação entre os profissionais

 

A comunicação é fundamental para a boa condução do atendimento, a passagem de plantão entre as equipes, as reuniões multiprofissionais e a interação entre os profissionais que realizam a assistência no domicílio. Os fatores que acabam prejudicando a atuação entre a equipe são aqueles que não são trabalhados pro-ativamente. Entre eles estão a falta de conhecimento dos profissionais a respeito do plano de cuidados proposto inicialmente, do papel dos profissionais que estão atuando no atendimento ao paciente, a falta de visão holística do profissional ou mesmo a dificuldade de atuar quando consegue identificar necessidades do paciente que não tenha relação com o seu trabalho técnico e, por último, a falta de conhecimento das coberturas dos planos de saúde.

 

O perfil nutricional também auxilia a empresa, pois o papel do serviço de nutrição no domicílio é importante, pois a grande maioria dos pacientes são usuários de suporte nutricional integral e utilizam via alternativa de alimentação. A transição da dieta industrializada para a dieta caseira é muito solicitada pelos planos de saúde, mas retratam uma grande preocupação para as nutricionistas que identificam que a dieta caseira não consegue fornecer a necessidade nutricional dos pacientes, principalmente daqueles que estão numa condição de desnutrição. Através deste acompanhamento o serviço de nutrição em conjunto com a empresa, atua na liberação da dieta industrializada para melhorar a condição de desnutrição com o objetivo de facilitar a recuperação dos pacientes.

Gestão
da escala de profissionais

 

Ela auxilia muito na operação, pois através dela é identificado o perfil mais adequado para o atendimento ao paciente e facilita também a comunicação com os familiares na adaptação com os profissionais. Algumas situações dificultam o trabalho da gestão de escalas: Disponibilidade dos profissionais, pois a empresa atua com mão de obra de cooperativa; Dificuldade de acesso às residências; Interferência familiar na escolha do profissional e na atuação dos mesmos na assistência; envolvimento pessoal do profissional com familiares e pacientes e assédio sexual. Cada paciente é único, suas relações afetivas com seus familiares são diferentes e sua filosofia de vida também, o que torna a assistência domiciliar muito diversificada e o profissional tem que apresentar alternativas de condutas na sua atuação.

Reflexões

 

A formação dos profissionais para a atuação na assistência domiciliar; O modelo de atendimento hospitalar X modelo de atendimento domiciliar, lembrando que um fato é o paciente e seu familiar serem recebidos na instituição hospitalar e, outro, é o paciente e seu familiar receberem toda a estrutura do atendimento domiciliar no seu domicílio; A interferência dos planos de saúde no plano assistencial e a humanização do atendimento. Tratar o paciente no seu domicílio torna essa prática mais humana, porém é necessário considerar o paciente o principal perito na avaliação da condição de sua saúde e considerar as sensações subjetivas para facilitar essa assistência e trabalhar cada dia mais na humanização do atendimento.