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Grupo explica genética do cabelo branco

 

Cientistas dos EUA identificam gene que protege folículo capilar; mecanismo pode ser usado contra câncer de pele


Por Ricardo Bonalume Neto


Pesquisadores que tentavam encontrar meios de combater o câncer da pele descobriram um mecanismo celular que explica como os cabelos ficam grisalhos. No futuro, esse tipo de pesquisa básica poderá representar grandes prejuízos para os fabricantes de tinturas, eliminando o efeito mais visível do envelhecimento.


Mas o que realmente interessa aos cientistas é exatamente o oposto: descobrir um meio de "envelhecer" as células cancerígenas antes que se tornem melanomas, tumores letais. Isso é possível porque tanto o cabelo como a pele têm pigmentos que dão suas cores características. As células que fabricam os pigmentos são os melanócitos, que se combinam com células fabricantes de cabelo, os queratinócitos, para produzir cores.


Para que o cabelo continue com sua cor natural é preciso uma renovação constante destas células, feita por meio das chamadas células-tronco, capazes de se diferenciar em várias outras. Os cientistas descobriram agora que a perda gradual dessas células está, literalmente, na raiz do cabelo grisalho. Mais especificamente, no folículo capilar, estrutura que "ancora" o cabelo na pele. As células-tronco do folículo capilar se transformam em melanócitos, que "pintam" os queratinócitos com a cor do cabelo da pessoa.


Experimentos em camundongos comprovaram as descobertas, obra de três cientistas do Instituto do Câncer Dana-Farber, da Universidade Harvard e do Hospital Infantil de Boston, EUA, liderados por David Fisher. "Nossos dados sugerem uma nova explicação patofisiológica para o cabelo grisalho", dizem os autores, em estudo publicado na última edição da revista "Science".

O gene Bcl2 é fundamental para proteger as células-tronco no momento em que o folículo capilar está em estado de dormência, sem crescimento de cabelo (algo que ocorre em cerca de 10% a 15% dos fios em qualquer momento). A equipe estudou camundongos que não tinham o gene protetor Bcl2. O efeito foi dramático: os camundongos, mal nasceram, logo ficaram grisalhos, por terem perdido as células-tronco que dariam origem aos melanócitos. Problemas com esse gene podem estar associados ao caso de pessoas que ficam com os cabelos brancos prematuramente.


O mesmo mecanismo celular que fez os camundongos ficarem grisalhos antes da hora poderia ser útil para atacar o melanoma, pois esse tipo de câncer de pele se caracteriza pela proliferação alucinada de melanócitos.


Os estudos com camundongos também revelaram uma relação clara entre a idade do bicho, o número de células-tronco e a quantidade de pêlo grisalho. Os testes foram reproduzidos em amostras do couro cabeludo de seres humanos e o resultado foi o mesmo. Os pesquisadores imaginam que exista algum mecanismo no folículo que deixe de funcionar com o envelhecimento, causando a morte das células-tronco e tornando o cabelo grisalho. Esse mecanismo poderia ser imitado por uma droga capaz de "envelhecer" as células do melanoma.

 

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Fonte: Folha de S.Paulo, 25/12, reproduzida no JC e-mail 2675, de 27/12/2004.