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A aposentadoria e o trabalho voluntário

 

O trabalho voluntário: uma questão contemporânea e um espaço para o aposentado, de Maria Cristina Dal Rio. São Paulo, Senac, 2004. 

Maria Cristina Dal Rio parte do pressuposto de que as relações sociais, no Brasil, são construídas a partir das relações de trabalho. Segundo ela, “aposentar e envelhecer significa voltar para o mundo privado, não ter visibilidade e ficar com a sociabilidade restrita”. No entanto, quando as pessoas resolvem buscar formas alternativas de integração social, surgem transformações e uma delas, como Dal Rio demonstra em sua obra - resultado de sua pesquisa de dissertação de mestrado defendida no Programa de Gerontologia da PUC-SP -, é o envolvimento com o trabalho voluntário. A maioria dos seus entrevistados - pessoas que continuaram ativas depois da aposentadoria, percorrendo diversos caminhos e descobrindo novas possibilidades - assinala que o trabalho solidário colabora para dar sentido à existência. Para a autora, o voluntariado “constitui-se em uma das fontes de reconhecimento e valorização que sustentam suas vidas, nas quais o trabalho remunerado teve papel fundamental e gratificante. O tempo do pós-trabalho apenas acentuou o altruísmo e a dimensão do trabalho para o outro, sedimentado em valores de solidariedade e religiosidade, traduzidos em uma atitude pró-ativa frente às questões sociais”. Nesse sentido o trabalho voluntário contribui “para que sejam repensados quaisquer preconceitos e estereótipos que envolvem as condições de aposentado e velho, ajudando a desenhar umas das formas de viver o pós-trabalho e a velhice, dando-lhes significado”.

Homem-aposentadoria-trabalho voluntário

Por Suzana A. Rocha Medeiros[*]geronto@pucsp.br

A busca do pleno entendimento sobre trabalho voluntário e aposentadoria e sua conexão é a temática desta obra. Há poucas décadas o trabalhador ansiava pela aposentadoria, momento de realizar sonhos e finalmente usufruir o que levou uma vida inteira para conquistar, sobretudo apropriando-se de algo precioso neste início de século: o tempo. Porém, o papel que o trabalho vem assumindo como fator determinante de importância social e individual representa uma mudança sem par e exige do trabalhador identificação tão intensa que é a partir dele que irá construir significado para sua vida. Quando se aposenta, o indivíduo vê-se diante de um profundo vazio, tornando-se incapaz de criar um novo sentido nesta etapa. E freqüentemente é considerado improdutivo e um peso para a sociedade.

O trabalho voluntário, atividade que a princípio era compreendida como atividade não remunerada de caráter social e criativo, no final do século XX ganha nova conotação, passa a ser também um canal de exercício de cidadania e responsabilidade social e abre novas perspectivas para os aposentados, pois sua prática não só representa a possibilidade de continuar exercendo um trabalho relevante, além de multiplicador de relações sociais dele decorrentes, como também provoca um sentimento de bem estar e de participação na vida.

Idosos e aposentados que enfrentaram esse momento, que se mantiveram ativos exercendo trabalho voluntário durante seu processo de envelhecimento e que conseguiram se manter em sintonia com o mundo são os focos do presente trabalho (Senac, 2004), em que Maria Cristina Dal Rio analisa minuciosamente os delicados aspectos contidos na relação homem-aposentadoria-trabalho voluntário.

As reflexões da autora são pistas importantes para aqueles que trabalham com o envelhecimento ou que estão vivendo esse período da sua existência. 


[*] Texto da orelha do livro