Vacina ataca câncer de próstata nos EUA
Teste feito com droga
terapêutica triplicou taxa de sobrevivência em pacientes com tumor em estágio
avançado
Andrew
Pollack escreve para o ‘‘New York Times’:
Um tratamento experimental triplicou a taxa de sobrevivência
de homens com câncer de próstata avançado num teste clínico, informam médicos
americanos. Segundo o grupo, o resultado representa o primeiro sucesso
significativo de uma terapia que funciona como vacina contra o câncer.
O tratamento, desenvolvido pela Dendreon, uma empresa de biotecnologia de
Seattle, é chamado de vacina não porque ele previne a doença, mas porque tenta
ativar o próprio sistema imunológico do organismo na luta contra o câncer após a
doença ter se instalado.
Muitas vacinas de câncer desse tipo falharam em testes clínicos e nenhuma delas
conseguiu atingir o mercado norte-americano. Mas o tratamento da Dendreon,
chamado Provenge, agora parece ter uma chance de ser o primeiro a receber a
aprovação da FDA (agência que regula fármacos e alimentos nos EUA),
especialmente se outro teste a ser concluído no fim deste ano confirmar os
resultados obtidos.
Num teste clínico envolvendo 127 homens com câncer de próstata avançado, 34% dos
que receberam Provenge estavam vivos após três anos. Em comparação, dos que
tomaram um placebo (substância inócua), apenas 11% ainda viviam.
A sobrevivência média, ou seja, o tempo em que metade dos pacientes havia
morrido, foi de 25,9 meses para os que tomaram Provenge contra 21,4 meses para
os que tomaram o placebo.
‘Esse estudo mostrou uma vantagem para a sobrevivência ao tomar essa droga em
pacientes com opções muito limitadas’, disse Eric J. Small, o líder da pesquisa
e professor de medicina da Universidade da Califórnia
em San Francisco. ‘Realmente dá às pessoas esperanças para o futuro.’
O aumento de 4,5 meses em sobrevivência obtido pelo Provenge é maior do que o
benefício de 2,5 meses mostrado em testes clínicos do Taxotere, uma droga da
Sanofi-Aventis.
O Taxotere é a única quimioterapia aprovada para pacientes no mesmo estágio em
que os do teste do Provenge, em que o câncer já foi além da próstata e não pode
mais ser controlado por terapia hormonal.
Promissor, não definitivo
Philip Kantoff, pesquisador não envolvido no estudo, disse que os resultados são
‘muito interessantes, provocativos e promissores’, mas ‘certamente não
definitivos’. Kantoff, chefe de oncologia de tumores sólidos no Instituto de
Câncer Dana-Farber, em Boston, disse que a diferença em sobrevivência ‘era muito
grande num estudo tão pequeno’. ‘Deixa qualquer um cético.’
Os resultados devem ser apresentados amanhã, num simpósio de câncer de próstata
em Orlando, Flórida (EUA), organizado por três sociedades médicas e pela
Fundação do Câncer de Próstata.
A Dendreon, que financiou os testes, anunciou em outubro que a droga havia
prolongado vidas, mas as estatísticas detalhadas serão reveladas pela primeira
vez no simpósio. O Provenge pode ser o primeiro medicamento da companhia a
entrar no mercado.
A maior meta do teste do Provenge era ver se a droga reduzia a taxa de avanço do
câncer, uma medida conhecida como tempo de progressão.
A Dendreon antes havia anunciado que a droga não havia conseguido fazer isso
numa quantidade estatisticamente significativa, embora a companhia tenha dito
que a droga de fato diminuiu a progressão em pacientes com tumor menos
agressivo.
Eric Small, que afirma não ter laços econômicos com a Dendreon, disse que o
tempo de progressão provavelmente não é a medida certa para usar em vacinas de
câncer, porque a doença pode piorar antes que o sistema imune comece a
combatê-lo.
Ele disse que o Provenge aumentou a sobrevivência em todos os pacientes, não só
os com tumores menos agressivos.
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Fonte: Folha de S. Paulo, 18/2/2005, reproduzida em JC e-mail
2709, de 18/02/2005. |