Família e Envelhecimento
Peixoto, Clarice Ehlers (org.). Família e Envelhecimento. Rio de Janeiro: FGV, 2004. 144p. Por Ana Amélia Camarano* A população brasileira envelhece e, com ela, a família. Novos desafios são apresentados à sociedade e aos formuladores das políticas públicas, e cabe às Ciências Sociais o desafio de buscar uma compreensão para essa transformação, bem como o de fornecer instrumental para avaliar o seu impacto nas condições de vida das famílias brasileiras e nas políticas públicas, entre outros aspectos. Uma das respostas a esses desafios é dada por Família e Envelhecimento, livro organizado por Clarice Ehlers Peixoto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Além de Clarice, quatro outros pesquisadores de universidades, como a USP, a UFBA e a UFRJ, e da Caisse Nationale d'Assurance Vieillesse (França) prestam sua colaboração ao debate sobre o envelhecimento populacional brasileiro, abordando questões importantes relativas ao cotidiano da população idosa. O prolongamento da vida é uma das maiores conquistas do século XX. No entanto, ele em geral tem sido apontado por muitos pesquisadores como um "problema". Esse ponto de vista é baseado numa visão generalizada de que a população idosa é dependente e vulnerável tanto na esfera econômica quanto na da saúde, relacionada à díade autonomia/dependência. Contudo, o primeiro capítulo deste livro, de Myriam Lins de Barros, questiona a homogeneidade da experiência do processo de envelhecimento, bem como a validade universal da representação ocidental e contemporânea da velhice como um período específico e delimitado da vida. Os demais autores mostram que o segmento das pessoas de mais idade é formado por indivíduos que apresentam taxas elevadas de vulnerabilidade e dependência, mas, também, por aqueles que estão desempenhando papéis importantes na família, na sociedade e na vida política. São militantes e provedores, segundo o capítulo de Júlio Assis Simões. São aposentados que trabalham, muitas vezes, por solidariedade familiar, como aponta Clarice Ehlers Peixoto, e que envelhecem diferentemente segundo o sexo, de acordo com o artigo de Claudine Attias-Donfut. Alda Britto da Motta mostra que, atualmente, novas formas de encontros e/ou atividades extrafamília são buscadas pelos idosos baianos. No entanto, outros ficam marginalizados com a passagem à aposentadoria e/ou quando os filhos criados saem de casa. Sumarizando, este livro traz uma grande contribuição ao debate sobre o envelhecimento, pela qualidade de seus textos e, principalmente, por desvendar parte da heterogeneidade do processo de envelhecimento da população brasileira. Ana Amélia Camarano, coordenadora das áreas de Pesquisa de População e Cidadania do Ipea. ________________________________ Fonte: Publicado originalmente como "orelha" do livro. |