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Abraço afetuoso em corpo sofrido 

 

Giulio Giulio. Abraço afetuoso em corpo sofrido. São Paulo, SENAC, 2002.

Por Suzana A. Rocha Medeiros*

O que é saúde? O que é doença? Tais questões são colocadas neste livro com um enfoque surpreendente para muitos: a doença é um desequilíbrio do organismo e, ao ocorrer, dá o sinal para que se processe o reequilíbrio. Observa o autor:.A saúde, então, não seria a ausência de doença, mas a capacidade de perceber os sinais de alerta e de pôr em ação os cuidados necessários para a superação do desequilíbrio. Nesse sentido, a doença faz parte da saúde, pois sem ela o novo equilíbrio não é alcançado. Em resumo, saúde é a disposição para nos autocuidarmos e assim superarmos o desequilíbrio. 

Essa concepção holística da doença deve ser levada em conta especialmente quando se trata de pessoas envelhecidas, para as quais o desequilíbrio orgânico acontece com mais freqüência. Não é possível viver sem doenças ou ter uma velhice sem doenças, diz Giulio Vicini. E acrescenta que ser saudável significa ter condições de recuperar a saúde a partir de um movimento interior. A velhice ótima não exclui a possibilidade de enfermidades passageiras e controláveis. Não exclui sequer a das doenças mais graves, mas mantém, em relação a estas, a possibilidade de descobrir um significado positivo.  

Ou seja, a velhice ótima exclui, sim, a velhice patológica, com suas doenças crônicas debilitantes que causam perdas graves de autonomia. As indicações deste livro para uma velhice satisfatória, que necessariamente implica uma vida satisfatória, precisam ser conhecidas por todos. Seu último parágrafo explica por que o aprendizado em permanente decurso se impõe: O idoso saudável e íntegro é aquele que continua sempre aprendendo, tanto com seus ganhos como com suas perdas [...]. A sensibilidade do pesquisador demonstra que o amor e o carinho são componentes fundamentais no processo de uma vida satisfatória. 

A leitura deste livro nos leva à compreensão de que o ser humano necessita tanto deles (amor e carinho) quanto de ar puro e alimentação sadia. Giulio aponta ainda que o estudo da velhice deve atravessar as fronteiras das disciplinas e buscar o espaço ainda vazio da transdisciplinaridade. É possível? Com certeza, este livro é um belo exercício nessa direção. 

Resultado de pesquisa 

Resultado de uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo com pessoas idosas que se mantêm socialmente ativas, este livro de Giulio Vicini expressa uma concepção de saúde abrangente que, por isso mesmo, diz respeito a todas as pessoas. Essa concepção, denominada visão holística, entende a saúde como o estado de equilíbrio físico, psíquico, mental, espiritual e ecológico do organismo. A manutenção desse equilíbrio e a sua recuperação, que quando obtidas liberam forças orgânicas internas, devem ser o objetivo da ação que busca a saúde integral e o envelhecimento saudável. O “paradigma holístico” proposto pelo autor, que conduz à “transdisciplinaridade”, reúne efetividade e afetividade – uma forma de enfrentar e resolver os complexos problemas deste mundo, assim como a chave para a boa compreensão do título desta obra. Na qual, segundo o professor Ubiratan D’Ambrosio, “Giulio Vicini mostra como medidas e atitudes adequadas podem levar a reconhecer o idoso não como um fardo, mas como um ser atuante na sociedade”. 

Giulio Vicini, brasileiro naturalizado, nasceu em Milão, na Itália, em 1940, e vive há trinta anos no Brasil. Mestre em gerontologia e psicólogo (PUC-SP). Foi o primeiro diretor do Instituto Superior de Hotelaria e Turismo do SENAC de São Paulo, presidente da Associação Brasileira de Escolas de Hotelaria e membro da diretoria da organização social Serviço de Orientação da Família (SOF). Colaborou para o aprofundamento de uma visão holística da assistência à saúde no SENAC de São Paulo, dando novo impulso à área de formação profissional em saúde holística, a partir da realização, em maio de 1996, do Simpósio sobre Saúde Integral no Limiar da Era da Alta Tecnologia.

 *Coordenadora geral do Portal do Envelhecimento, coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP, e professora emérita da PUC-SP.