Independentes, graças a Deus
Tese desenvolvida na UnB revela auto-suficiência
Durante mais de oito meses, a psicóloga Hilma Khoury visitou 315 idosos, residentes em Brasília. Em entrevistas com mais de uma hora de duração, esteve na casa de 105 homens e 210 mulheres, com idade entre 60 e 92 anos e, ao final de tanto trabalho, descobriu que a nova geração da terceira idade do Plano Piloto é muito mais independente do que se poderia supor. Saem sozinhos, dirigem o próprio carro, sustentam a família e freqüentemente fazem parte de algum tipo de atividade relacionada a lazer ou voluntariado.
A conclusão faz parte da tese de doutorado Controle primário e controle secundário: relação com indicadores de envelhecimento bem-sucedido, apresentada em janeiro de 2005 ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). A partir de informações acerca da relação dos idosos para com a vida, a família, os amigos e os hábitos que mantêm, apesar da idade, a psicóloga constatou que Brasília favorece a consolidação de um modo de viver propício à preservação da qualidade de vida nessa faixa etária.
“Certamente, uma pesquisa igual em outra cidade revelaria outras características”, diz ela. Para desenvolver o estudo, a pesquisadora criou uma escala especial com base em referenciais que chamou de controle primário e controle secundário, que indicam, respectivamente, o esforço da pessoa em adaptar o ambiente às suas necessidades e o esforço individual dela para se adaptar às situações. Com base nisso, percebeu que, na medida em que se envelhece, a disposição para adaptar o ambiente às próprias necessidades diminui, mas ainda é maior, entre os idosos investigados que a disposição para se adaptar ao ambiente. Essa conclusão contraria a teoria que prevê um aumento do esforço para se adequar ao ambiente e às situações na medida em que se envelhece.
Situações privilegiadas
Entre os fatores que podem contribuir para essa realidade em Brasília, a psicóloga acredita que interfira muito a posição social dos entrevistados. Do total de idosos procurados por ela, a renda familiar média atingiu R$ 5.043,64, a escolaridade ficou em torno de 11,1 anos; e 14,9% moravam sozinhos. Um dos casos que mais chamou a atenção da pesquisadora foi o de um idoso que não só tinha carro, como também dirigia o próprio carro sem problemas aos 79 anos.
Vários foram os aspectos que também pesaram nas avaliações feitas durante o desenvolvimento da pesquisa, como, por exemplo, indicadores relacionados a engajamento em atividades, relações interpessoais, saúde, percepção do próprio envelhecimento, adequação de atividades à idade, além da religiosidade (freqüência a templos e hábito da oração) e até o ambiente de moradia.
No item ambiente de moradia, um dos resultados que mais surpreendeu a psicóloga foi o fato de os idosos que dividem o espaço residencial com muita gente serem mais retraídos, submissos e menos independentes. “É como se a elevada densidade sócioambiental os imobilizasse”, explica. No caso de idosos mais independentes, ao contrário do que se poderia pressupor, é muito maior a disposição para pedir ajuda.
Perfil Hilma Khoury é psicóloga e professora de psicologia na Universidade Federal do Pará (UFPA). Trabalhou durante cinco anos na Universidade da Terceira Idade, em Belém (PA), programa de extensão da UFPA, onde coordenava projeto de extensão para atendimento psicológico em grupo voltado a idosos. E-mail: hilmatk@yahoo.com.br Fonte: http://www.unb.br/acs/bcopauta/terceiraidade6.htm |