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Um retrato da doença de Alzheimer
em “Senhora do Destino”

Por Maria Guiomar de Simone Martines  e
Ana Paula Bernardi Garcia de Camargo*


Sr. Pedro, início de Alzheimer, durante recebimento do prêmio de
1º lugar oferecido pela Associação Brasileira de Alzheimer, em 2004.
 

A novela Senhora do destino mostra, claramente, algumas das dificuldades enfrentadas pelos portadores da Doença de Alzheimer, tanto no convívio familiar, como na aceitação e adaptação às perdas cognitivas que vão ocorrendo.

Todos nós, ora ou outra de nossas vidas, esquecemos de algo que parece irrelevante, seja o nome de alguém ou o telefone de um familiar próximo. Logo nos consolamos: deu branco, ou ainda, está na ponta da língua.

Imaginem a angústia de ir percebendo que estes "esquecimentos" vão se tornando freqüentes e que algo parece estar fugindo ao controle do nosso tão ilustre ego. Essa é uma das aflições vividas pela personagem Baronesa de Bom Sucesso, em Senhora do Destino. Porém, nem sempre ocorre assim. Inúmeras vezes são os entes queridos e as pessoas mais próximas, vizinhos e amigos, que passam a notar pequenos lapsos de memória, dificuldades em assuntos e tarefas cotidianas que antes eram facilmente exercidas. 

Vejam que interessante e importante mensagem. Quando a Baronesa é tratada com amor, a sua dificuldade é aplacada, diminuída, e o sentimento de acolhimento e compreensão prevalecem ao de rejeição. Quando a tratam com ironia e desprezo, as manifestações na alteração da memória tornam-se ainda maiores.

Outro exemplo importante abordado na novela, em termos de memória e comportamento, é a facilidade para perder-se no tempo e no espaço. Em dado capítulo, a Baronesa sai de casa quase de madrugada, veste-se finamente e vai portando suas jóias a um lugar que já não existe. Posteriormente é resgatada por seus familiares que a levam para casa. Há, porém, neste ínterim, a presença do instante do desespero, ao perceber-se perdida. 

A nossa sociedade plugada conseguiu mudar a nomenclatura de muitas coisas, mas não conseguiu mexer com o que o homem tem de  mais bonito e importante, o amor e a solidariedade pelos avós, pais ou pessoas mais velhas.

Ainda bem que a mídia resolveu colaborar com a campanha que a Abraz já desenvolve há anos. A divulgação dos principais sintomas da D.A. e o encaminhamento a médicos especialistas o mais rápido possível podem facilitar e orientar uma convivência saudável e a estabilização do quadro.

Para conviver com um portador de D.A. devemos discutir aspectos fundamentais para o seu bem-estar: ambiente, refeições, segurança, mobiliário, banho, música ambiente, entre outros inúmeros fatores.

A Associação Brasileira de Alzheimer, através de suas reuniões, abre um espaço para a necessidade dos familiares  falarem, serem ouvidos e trocarem idéias sobre procedimentos eficientes. Além disso,  estabelece e facilita o contato com pessoas que convivem com o mesmo problema, dá dicas sobre os melhores caminhos para a convivência do portador com sua família, com o seu  grupo e com comunidade à qual pertence.

Estamos no momento de aprender o que diz o ditado: se você tem um limão, faça com ele uma limonada. Se você tem um  parente ou conhecido com D.A., comece a perceber que ensinamentos esta lição pode lhe trazer. Busque informações científicas adoçadas com bom senso e acrescente uma pitada de alegria. É fundamental que tomemos consciência do que é a D.A., qual a sua evolução e o que fazer caso ela bata a nossa porta.

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* Maria Guiomar de Simone Martines é Assistente Social com especialização em Recursos Humanos e Desenvolvimento Gerencial (Universidade de Sorocaba); Psicodrama (Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama de SP); Gerontologia Social (Univesidade Sâo Paulo); Educação em Saúde Pública (Faculdade de Ciências da Saúde São Camilo); e mestranda em Gerontologia pela PUC-SP. É sócia-proprietária do Residencial Ciclo Vital. E-mail: guiomarsimone@yahoo.com.br

 

Ana Paula Bernardi Garcia de Camargo é Psicóloga, especializada em abordagem Junguiana coligada às técnicas corporais pelo Instituto Sedes Sapientiae (SP). Experiência em psicoterapia clínica, atendimento familiar e oficinas com grupos de idosos em instituições geriátricas.