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Envelhecimento e consumo em tempos Por Sergio Gustavo Alves*- Diretamente para o Portal Como não entender o processo natural da passagem dos anos, a mudança dos tempos, a influência devastadora dos conceitos do capitalismo que gera nos seres humanos o individualismo, o consumo e o conceito do descartável? A própria palavra velho, segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, significa “desusado”, “antiquado” e “obsoleto”. O termo serve para descartar coisas que já expiraram sua vida útil, é um termo cruel na concepção cartesiana, diferente do velho humano que expressa carinho, como: “o meu velho pai, o meu velho amigo etc.” O velho rio que corta meu bairro que deixou de ser “caldoso”, perdeu muito da sua magnitude e hoje tem o aspecto descuidado, largado, consumido e diminuído. Ou seja, na ótica cartesiana meu velho rio está velho. O meu velho rio poderia retomar seu fluxo, a vitalidade, se não fosse usurpado por aqueles que invadem os leitos para se servirem das suas riquezas naturais. Como nos alerta Leonardo Boff: “O estado da terra é dramático” cujo bem maior que é a vida, perde o significado sagrado, sendo usada para engendrar capital, “lenha para por na máquina do estado”. Portanto não é de se estranhar que o homem se tornou objeto de consumo. A necessidade de reserva de mão de obra jovem é uma necessidade do capitalismo, que não dá oportunidade de trabalho ao velho que é visto como lento na produção, e que em situações mais cruéis de países sub-desenvolvidos com suas previdências falidas, não dão nem o direito ao consumo de bens mais sofisticados. Nega acesso aos novos tratamentos e medicamentos com o parco benefício, ou quando tem que complementar a renda familiar para o auxilio da criação dos netos, trabalhando de empacotador em mercados, carregando cartazes de propaganda, de empréstimos pré-aprovados que vêm descontados na aposentadoria, ou nas madrugadas de chuva nas feiras. E quando falta saúde passa a ser um peso para a família. Em casos mais extremos são internados em instituições e perdem o direito de gerir a própria aposentadoria, muitas vezes ficando sem dinheiro para comprar o básico à sobrevivência. Poderíamos mudar tal situação? Diante de tanta desigualdade social, na qual a saúde do Brasil caminha a passos lentos, os velhos não têm como pagar, e morrem em filas de espera. A passagem do tempo é um fator natural pelo qual todos passaremos, mas que muitos só admitem quando lhes falta eficiência, ficando dependentes. Se a morte não vier de forma fulminante, como muitos gostariam que acontecesse, poderemos ficar deficientes, e nosso destino poderá ser uma instituição onde as moscas serão amigas de convivência simbiótica. Carmen, Francisca e Yara, relatadas no livro “Envelhecer, Histórias, Encontros e Transformações” de Pedro Paulo Monteiro, nomes fictícios de pessoas que passam por nossas vidas e nos marcam profundamente pelos momentos de solidão, e que acabamos por nos identificarmos com elas quando compartilham suas histórias de vida. Sabemos que não podemos salvar o mundo, mas também não devemos deixar de sonhar com uma sociedade melhor, que atenda principalmente as pessoas que são colocadas às margens do rio do produtivismo e do consumismo desenfreado. Os valores disseminados pelo capitalismo usam as pessoas o tempo todo em prol dos que estão no topo da pirâmide social do nosso país. Os nossos velhos necessitam de dignidade tanto no processo de viver quanto no processo de morrer. ___________________ * Aluno do 7° período de Educação Física da Universidade Católica de Petrópolis. Atua como voluntário em Esporte Adaptado para Paralisados Cerebrais e Lesionados Medulares em Hospital de Doenças Crônicas. Feirante e Presidente da Associação Profissional do Comércio de Feirantes de Petrópolis-RJ. |
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