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A polêmica sobre pesquisa com células embrionárias

Por Vera Morais em entrevista com Dr. Nelson Tatsui,
Hematologista, Especialista em Células Tronco e Diretor da Criogênesis.

A lei sancionada em 24/03 permite as pesquisas laboratoriais com as células-tronco de embriões. Entretanto, ainda há tanta muita polêmica acerca deste assunto. Uma das causas se deve à falta de normas para as pesquisas e aplicações com as células de embriões, mas há também muita discussão por conta das opiniões divergentes de vários grupos, tais como cientistas, a própria população e religiosos. Os religiosos e alguns grupos populacionais, por exemplo, são contra a Lei porque consideram o uso dos embriões como uma espécie de aborto.

As religiões, em sua maioria, consideram o início da vida no momento da concepção, ou seja, no encontro do espermatozóide com o óvulo. Mas as Igrejas não ficam somente nesse contexto. Com muita propriedade comentam sobre o potencial mais real do uso da célula tronco adulta, provenientes de sangue de cordão umbilical, medula óssea e sangue periférico mobilizado. Outros grupos, inclusive cientistas, têm falado da possibilidade de efeitos colaterais que poderão complicar o uso das células embrionárias e principalmente do excesso de esperança dado aos pacientes. Tem se falado também do oportunismo de alguns cientistas nesta onda de célula-tronco, dos interesses financeiros de laboratórios públicos e privados em relação às verbas federais e estaduais e do perigo de banalização da utilização de embriões humanos para finalidades não terapêuticas, entre outros.

“Sempre ocorrerá discussão sobre a legalidade ou a moralidade do uso de células embrionárias. De um lado, essa discussão é benéfica no sentido de não banalizar a utilização de embriões. Por outro lado, tanta polêmica pode retardar a possibilidade de benefícios clínicos para milhares de pacientes. Mas, de uma forma geral, essas discussões são necessárias, pois geralmente leis resultantes de amplas discussões são fundamentais no sentido de proporcionar leis balanceadas, rígidas e mais representativas”, comenta Dr. Nelson Tatsui, diretor da Criogênesis e pesquisador de células tronco há vários anos.

Desde 1940, com as primeiras pesquisas de transplante de células tronco, um dos maiores problemas enfrentados pela comunidade científica internacional foi a questão da compatibilidade entre o doador e o receptor. “Trata-se de um conjunto amplo de proteínas que permite avaliar a compatibilidade entre os indivíduos e é chamado de complexo de histocompatibilidade” explica Dr. Nelson Tatsui. Embora teoricamente esse problema diminua quanto mais jovem for a célula, o problema existe mesmo se tratando de célula embrionária, pois ainda é proibida a transferência nuclear de uma célula do paciente para um ambiente celular embrionário para se obter uma célula compatível (a chamada clonagem terapêutica).

Entretanto, faz-se necessário acelerar e investir rapidamente nos grupos laboratoriais competentes, públicos ou privados, para que rapidamente se discuta as normas de utilização clínica. Além disso, é imprescindível aprimorar o conhecimento do potencial “in vitro” desta célula, pois a lei sancionada, até o momento, permite somente a utilização laboratorial e a forma como foi colocada para a população,como a grande esperança da medicina, levou o congresso aprovar uma lei misturada com sementes transgênicas. Portanto, muita coisa terá que ser discutida ainda. Cabe agora, com discernimento, racionalizar o uso de verbas públicas e escolher centros de pesquisa realmente capazes de trazer resultados.

Segundo o Dr Nelson Tatsui, “é fundamental jamais permitir a deterioração dos investimentos nas células da fase adulta e de cordão umbilical, que já estão trazendo resultados clínicos para inúmeros pacientes e poderá ser de muito maior benefício do que a tão falada célula embrionária. As células do sangue de cordão umbilical, medula óssea e sangue periférico mobilizado, possuem uma eficiência comprovada quanto à formação de diferentes tecidos, algumas inclusive comprovadas clinicamente”. Além disso, é possível que os efeitos colaterais sejam menores que da fase embrionária, principalmente na questão imunológica e genética e da possibilidade de formação de tumores (células com crescimento descontrolado). O empenho nas pesquisa da fase adulta são reais, pois vários centros no Brasil estudam e utilizam clinicamente esse grupo celular. Enquanto da fase embrionária, ainda estão na fase política.

É muito questionada a diferença entre as células dos embriões, as do cordão umbilical e as adultas. Em relação à eficiência teórica, o potencial da célula embrionária em desenvolver tecidos é maior do que as células da fase adulta. Os resultados clínicos, porém, não existem ainda e não há perspectiva, no momento, para testes em humanos.

Em relação ao uso real e terapêutico, as células da fase adulta já são utilizadas no tratamento de milhares de pessoas com doenças oncológicas, hematológicas e imunológicas e já demonstraram resultados favoráveis na formação de diferentes tecidos, tais como: nervoso, cardíaco, ósseo, cartilaginoso e muscular. Além disso, já existem estudos e casos acerca das contra-indicações e reações adversas que podem causar aos pacientes. Já nas células embrionárias, os estudos “in vitro” com células de outros animais, têm demonstrado mais problemas do que as células da fase adulta, além disso, somente agora iniciarão realmente os estudos com células humanas.

De qualquer maneira, a pesquisa com embriões humanos são difíceis e onerosas. E o mais importante disso, é que a população seja informada desta realidade e que, sua utilização em tratamentos clínicos, realmente ainda levará décadas, pois a ciência terá que contornar problemas em relação à formação de tumores, incompatibilidade, transplante nuclear, entre outros problemas relacionados à captação de embriões. Ou seja, deveriam ser divulgadas também as limitações desta pesquisa, a fim de não gerar falsas expectativas na população e, em especial, nos pacientes que sonham com a cura de determinada doença. 

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Fonte: Vera Morais, Assessoria de Imprensa.
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