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Sexualidade e envelhecimento: algumas reflexões

por Marisa Margarete Feriancic Pesquisadora Mentora
marisa.feriancic@ig.com.br

Encarar a sexualidade idosa como algo saudável e natural está longe de ser compreendida e aceita pela nossa sociedade. Embora o sexo seja um assunto tão falado e reportado em todas as mídias, na maioria das vezes ele é tratado de forma superficial, banalizado, ou serve apenas de mote para vender diversos produtos.  Mistura-se sexo com verduras, frutas, hortaliças e chocolates, denunciando o quanto temos ainda que discutir seriamente a sexualidade dos seres humanos.

Tal qual a sexualidade, a velhice também é impregnada de tabus e preconceitos.

Falar de sexualidade idosa provoca constrangimentos, falas preconceituosas (vovô tarado, velha assanhada) ou piadas de mau gosto sobre a virilidade do homem e a menopausa da mulher.

Isto se deve à imposição de padrões sexuais rigidamente estabelecidos e também pela repressão e pelo silenciamento constante do assunto. No indivíduo idoso a sexualidade é ignorada, escondida e, em alguns casos, enaltecida e prodigiosamente divulgada aos quatro cantos. Nenhuma dessas posturas esclarece ou colabora para que o idoso incorpore uma sexualidade saudável. A sexualidade precisa ser vista com a mesma seriedade e importância com que observamos os outros aspectos do envelhecimento. A informação é muito importante. Informar a família, os cuidadores e principalmente o idoso. A questão da marginalização social – o idoso cuidar só de passarinhos e a idosa fazer tricô – deve ser repensada em termos de direitos sobre o próprio corpo e do exercício da sexualidade. O preconceito, aliado à falta de informação reforça o estereótipo da velhice assexuada.

Freqüentemente, encontramos pessoas com dificuldades de lidar com questões sexuais. Se não conseguimos lidar nem com a nossa própria sexualidade, como cuidar da sexualidade do outro? O velho não é assanhado só porque fez um gracejo para uma cuidadora. A idosa não é louca só porque expressa seu desejo sexual.

Salvatore Capodieci, em seu livro A Idade dos Sentimentos, nos adverte:

As atitudes preconceituosas de alguns médicos, que no diálogo clínico menosprezam esta parte tão importante da anamnese, são uma das causas principais do limitado empenho terapêutico com relação às pessoas de idade geriátrica. Apesar dos progressos registrados em um correto diagnóstico e no tratamento dos distúrbios sexuais, a prática clínica atual se baseia com muita freqüência numa carente formação universitária do médico, não prevendo o aprendizado da sexologia clínica, baseando-se, pelo contrário, em conhecimentos anedóticos da velhice e da sexualidade ou numa atitude niilista do médico. Os pacientes idosos narram aos médicos suas experiências vivenciais de culpa no que tange aos sentimentos referentes à sexualidade; tais vivências desaprovadas pelo próprio idoso e pelas pessoas que vivem com ele às vezes não são entendidas nem mesmo pelo médico. Não é raro o caso de o paciente manifestar seu problema sexual por meio de sintomas somáticos tais como dores na bexiga ou nos órgãos genitais, prurido, distúrbios neurovegetativos matizados etc. Tais sintomatologias muitas vezes são modalidades indiretas para manifestar uma patologia ou um mal-estar que a pessoa tem dificuldade para expressar, particularmente quando o clínico geral, ou mesmo os especialistas, como o ginecologista, o andrologista ou o psiquiatra, não possuem uma boa capacidade e escuta. 

Sem dúvida, o envelhecimento acarreta mudanças físicas e biológicas em todos os seres vivos e os órgãos sexuais também envelhecem, mas eles não param de funcionar.

O homem idoso precisa desviar a ênfase do seu desempenho sexual, fazendo migrá-las para as emoções. Sua ereção já não é mais a de um jovem de 20 anos, mas mesmo assim ela pode satisfazer sua parceira. A mulher idosa não precisa ter vergonha de suas rugas se não tiver vergonha (ou medo) de expressar sua sexualidade. Tanto os homens como a mulheres podem manter-se sexualmente ativos até o final da vida. A realização sexual e os encontros amorosos são frutos da história a das experiências de cada indivíduo; são jogos de amor e esquemas inconscientes que formados ao longo da vida pode se expandir ou recrudescer na velhice. Há de se ressaltar que para todos os seres humanos, a questão do contato físico é demasiado grande para ser reduzido somente à esfera da “genitalidade”. 

Referência

CAPODIECI, S. A idade dos sentimentos – Amor e sexualidade após os 60 anos. São Paulo: Edusp, 2000, p.54.