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A clonagem por transferência nuclear:
avanços
e preocupações

 

Por Darcy Fontoura de Almeida*

 

O conhecimento científico está adquirido, sem retorno, e devemos aprender a conviver com ele. Cautela e paciência são recomendáveis


Mais uma vez o progresso da ciência surpreende aqueles que pretendem programá-lo. Assim foi com o Projeto Genoma Humano, quando as primeiras previsões eram de que sua conclusão seria obtida por volta de 2015. Agora, a clonagem de um embrião humano, (até o estágio de blástula) nos é comunicada por um grupo de cientistas da Coréia do Sul (http://www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/1112286).

No
caso, entretanto, o objetivo se limitava à clonagem de células tronco para fins terapêuticos. A experiência realizada consistiu na clonagem, por transferência nuclear, de embriões humanos de pacientes com vários tipos de doenças, a partir de células de pele dos doadores. Dos embriões clonados foram obtidas células tronco humanas embrionárias. O comunicado teve enorme repercussão, por se tratar de clonagem de embriões humanos.

 

motivos adicionais: o alto índice de sucesso, independente do sexo ou idade do doador (uma em cerca de cada 20 tentativas), a indicar o maior controle técnico das variáveis em jogo; a absoluta identidade genética entre as células clonadas e as do respectivo doador (o que significa um expressivo potencial para casos de transplantes); a característica de multipotência (capacidade das células originarem tecidos diversos, em condições adequadas) e a normalidade dos seus cromossomos.

Isto sem falar nos estudos que se tornam possíveis para avaliação da estabilidade genética e epigenética dos clones (v. W.S. Hwang et al., no endereço acima). A questão mais candente diz respeito ao uso que será feito desta descoberta. Para aqueles que ansiavam pela obtenção de células tronco para estudos com objetivos médicos, o tempo de espera foi drasticamente reduzido, enquanto que, para os que temem a clonagem de seres humanos agora mais fácil do que nunca – configura-se a iminência de uma situação de riscos e de imprevistos para a espécie humana.


Talvez seja pertinente recordar um fato histórico nas relações da ciência com a sociedade. Em 1973, durante a Gordon Conference, nos EUA, Paul Berg anunciou seu sucesso na obtenção de moléculas de DNA recombinante. Os cientistas presentes se maravilharam com a fantástica perspectiva da transgênese. Ao mesmo tempo, levantou-se uma palavra de cautela, que acabou por prevalecer e resultou na convocação da famosa reunião de Asilomar.


Definiu-se
ali o balisamento dos trabalhos futuros sobre o assunto, para evitar ocorrências imprevistas e desastrosas com a manipulação da vida. Pela primeira vez na história os próprios cientistas se encarregaram de convocar seus colegas e representantes credenciados da sociedade para deliberações conjuntas.

 

As palavras de Hwang parecem indicar posição semelhante agora. O implante do embrião clonado no útero de uma mulher deve serbanido em todo o mundo’; na Coréia do Sul, este ato constitui crime. O conhecimento científico está adquirido, sem retorno, e devemos aprender a conviver com ele. Cautela e paciência são recomendáveis.

 

  • Darcy Fontoura de Almeida, médico, geneticista, ex-diretor do Instituto de Biofísica da UFRJ, ex-editor do ‘Jornal da Ciência’, é professor emérito da UFRJ. Artigo escrito para o ‘JC e-mail’.

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Fonte: JC e-mail 2774, de 24/05/2005.

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=28340