Câmara
americana
desafia
veto
de Bush
em
projeto
de células-tronco embrionárias
Proposta
é
aprovada,
mas
ainda
pode
ser
derubada
pelo
presidente
Por Sheryl
Gay Stolberg
A
Câmara
aprovou
um
projeto
de
lei
nesta
terça-feira
(24/05)
que
expande o financiamento
federal
para
pesquisa
de células-tronco embrionárias, desafiando a
ameaça
de
veto
do
presidente
Bush,
que
apareceu na
Casa
Branca
cercado
de
bebês
e
crianças
pequenas
nascidas
de
embriões
de
proveta
e alertou
que
a
medida
"nos
fará
cruzar
uma
linha
ética
crítica".
Jamie Rose/The New York
Times
Diana DeGette (democrata) e Michael Castle (republicano) atendem a
imprensa
depois da
votação
que aprovou as
pesquisas
com
embriões
A
votação,
por
238
votos
contra
194,
com
50 republicanos a
favor,
ficou
muito
aquém
da
maioria
de
dois
terços
necessária
para
derrubar
um
veto
presidencial, criando a possibilidade de
um
confronto
entre
o
Congresso
e Bush,
que
nunca
exerceu
seu
poder
de
veto.
Um
projeto
idêntico
conta
com
apoio
bipartidário no
Senado;
momentos
após
a
votação
na
Câmara,
os
responsáveis
por
ele
no
Senado
escreveram ao
líder
republicano, Bill Frist, pedindo
que
a coloque na
pauta
de
votação.
A
ação
da
Câmara
representa a
primeira
votação
sobre
pesquisa
de células-tronco embrionárias
desde
agosto
de 2001,
quando
Bush abriu a
porta
para
financiamento de
estudos
com
dinheiro
do
contribuinte,
mas
apenas
dentro
de
limites
rígidos.
A
nova
medida
permitirá
que
o
governo
pague
por
estudos
envolvendo
embriões
humanos
que
estão depositados de
forma
congelada nas
clínicas
de
fertilidade,
desde
que
os
casais
que
conceberam os
embriões
certifiquem
que
tomaram a
decisão
de descartá-los. "A
Casa
Branca
não
pode
ignorar
esta
votação",
disse o
principal
defensor
republicano do
projeto,
o
deputado
Michael N. Castle de Delaware, acrescentando: "Eu estou
animado".
Mas
os
oponentes
também
disseram
que
estavam
animados.
O
deputado
Joseph R. Pitts, republicano da Pensilvânia, disse: "Eu odeio
perder,
mas
me sinto
muito
bem
com
esta
votação.
Nós
derrotamos a
margem
à
prova
de
veto
por
50
votos".
A
grande
pergunta
agora
é o
que
acontecerá no
Senado.
Frist,
um
cirurgião
cardíaco
do Tennessee
que
apóia a
política
em
vigor,
já
está enfrentando
intensa
pressão
por
parte
dos
conservadores
em
torno
da
questão
das
indicações
de Bush ao
Judiciário
e
não
parece
disposto
a
marcar
uma
votação
sobre
pesquisa
de células-tronco.
Ele
disse na
semana
passada
que
deseja
checar
seus
colegas
antes
de
tomar
uma
decisão.
A
votação
na
Câmara
ocorreu
após
uma
passional
campanha
de
lobby
por
parte
de
defensores
dos
direitos
dos
pacientes,
incluindo Nancy Reagan,
que
se tornou uma
forte
defensora da
pesquisa
de células-tronco
durante
a
luta
de
seu
marido
com
o
mal
de Alzheimer.
Ela
telefonou
para
muitos
republicanos nesta
semana
pedindo
que
votassem a
favor,
disse Castle.
Mas
Bush respondeu
com
um
poderoso
golpe
duplo,
empregando
todo
o
peso
da
Casa
Branca
na
oposição.
Na
sexta-feira,
ele
fez uma
rara
ameaça
de
veto
ao
projeto
de Castle. Na
terça-feira,
poucas
horas
antes
da
votação,
ele
apareceu na
Sala
Leste
da
Casa
Branca
com
famílias
criadas
por
uma
rara,
mas
crescente
prática,
na
qual
um
casal
doa
seus
embriões
congelados
para
outro.
"As
crianças
presentes
aqui
hoje
nos
lembram de
que
não
há
tal
coisa
como
embrião
descartável",
disse Bush,
em
meio
ao
som
dos
bebês
embalados
nos
braços
de
suas
mães.
"Cada
embrião
é
único
e geneticamente
completo,
como
todo
ser
humano.
E
cada
um
de
nós
iniciou a
vida
desta
forma.
Estas
vidas
não
são
matéria-prima
para
ser
explorada,
mas
dádivas."
Os
pais,
que
trabalham
para
uma
agência
de
adoção
cristã, aplaudiram entusiasticamente.
Quando Bush disse
que "cada
vida
humana é
um
bem
precioso
de
amor
inigualável",
uma
mãe
atrás
dele no
palco
disse a
palavra
"Amém".
O
evento
na
Casa
Branca,
sobre
o
que
os
cristãos
conservadores
e o
presidente
chamam de
questão
importante
de "cultura
da
vida",
demonstrou
quão
longe
Bush está
disposto
a
ir
para
reafirmar
a
política
que
ele
considera o
coração
moral
de
sua
presidência.
Em
outro
sinal
de
quão
importante
é a
questão
para
os
conservadores,
o
líder
republicano na
Câmara,
Tom
DeLay do Texas, comandou a
oposição
ao
projeto,
também
o abordando
em
termos
morais
fortes.
"Um
embrião
é uma
pessoa,
um
organismo
humano
distinto,
integrado e dirigido
internamente",
declarou DeLay, acrescentando: "Nós
todos
já
fomos
embriões.
Abraão
também
foi. Maomé
também
foi. Jesus de Nazaré
também
foi".
Ele
prosseguiu: "A
opção
de
proteger
um
embrião
humano
da
destruição
com
financiamento
federal
não
se
trata,
no
final,
de
embriões
humanos.
Trata-se de
nós,
de
nossa
rejeição à
noção
traiçoeira
de
que
apesar
de
toda
vida
humana
ser
sagrada,
algumas
são
mais
sagradas
que
outras."
As células-tronco embrionárias humanas, isoladas dos
embriões
humanos
pela
primeira
vez
em
1998, têm o
potencial
de
crescer
em
qualquer
tipo
de
célula
ou
tecido
do
corpo,
contendo
assim
grande
promessa
de
tratamento
de
doenças.
Mas
os
embriões
são
destruídos
quando
as
células
são
extraídas.
Assim,
Bush, visando
desencorajar
uma
maior
destruição
de
embriões,
insistiu
em
2001
que
o financiamento
federal
fosse limitado aos
estudos
das
colônias
de células-tronco,
ou
linhagens,
já
existentes.
Em seu lugar, Bush está promovendo a pesquisa de células-tronco adultas, que são
extraídas da medula óssea e do sangue, incluindo o sangue do cordão umbilical,
que têm menor potencial para a medicina do que as células-tronco embrionárias.
Na terça-feira, a Câmara votou por 431 votos contra 1 a aprovação de uma medida
que criará bancos de sangue de cordão umbilical para promover a pesquisa de
células-tronco adultas.
Mas foi o debate em torno das células-tronco embrionárias que
inflamou as paixões na Câmara, soando às vezes como uma lição de biologia
celular, às vezes como um discurso teológico e às vezes como confissão pessoal.
Um deputado após o outro se dirigiu ao plenário da Câmara para recontar suas
lutas com a consciência e as marcantes experiências pessoais com morte e doença.
O deputado Jim Langevin, democrata de Rhode Island, usou o microfone em sua
cadeira de rodas para falar sobre sua lesão na medula espinhal, que ele disse
que poderia ser curada pela pesquisa. A deputada Jo Ann Emerson, republicana do
Missouri, falou sobre um jovem chamado Cody, que ficou paralítico após um
acidente de carro aos 16 anos e que lhe pediu para que repensasse sua oposição
aos estudos envolvendo células-tronco embrionárias.
"Eu escrevi posteriormente à família de Cody para lhes dizer que, mesmo após
ouvir sua história, eu não poderia fazer o que ele me pedia", disse Emerson, "e
lamento ter escrito aquela carta desde então". Mas para cada defensor com uma
história pessoal comovente, havia um oponente como o deputado Dan Lungren, um
republicano da Califórnia, cujo irmão tem mal de Parkinson. "Eu aprendi muitas
coisas com meu irmão", disse Lungren, "mas o que mais aprendi é que há uma
diferença entre certo e errado".
Os responsáveis pelo projeto no Senado, os senadores Arlen Specter, republicano
da Pensilvânia, e Tom Harkin, democrata de Iowa, marcaram uma coletiva de
imprensa para quarta-feira para exigir uma ação rápida. "Eu não entendo por que
Bush está fazendo isto", disse Harkin, acrescentando: "Eu gostaria que ele não
traçasse linhas na areia".
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Fonte:
Tradução:
George El Khouri Andolfato - Uol
Mídia
Global, 25/5, reproduzido no
JC
e-mail
2775,
de 25/05/2005.
Disponível
em
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=28388 |