Empregatibilidade
Em recente anúncio no jornal: Gerente de Franquia, superior completo, masculino, experiência: 00 meses. Até este momento, eu e uma grande quantidade de desempregados, ou que estejam descontentes com seu atual trabalho somos potenciais candidatos. Para efetivar a candidatura, só era necessário dirigir-se ao órgão público que divulgara o anúncio, com a carteira profissional, preencher um cadastro, e aguardar a convocação para a entrevista. Doce ilusão.
Só que um empresário, franqueador e empregador no alto de sua cadeira executiva, imagina que competência se encerra aos 35 anos, e que vivência, conhecimento, ousadia, busca de melhores oportunidades também é restrita àqueles que ainda não chegaram aos "enta". É certo, que meu avô, com cinqüenta não era mais capaz de amansar uma mula nova, pois o seu corpo já havia tomado muitos tombos. Também é certo, que outro avô já não conseguia mais, por volta dos 60, manter o mesmo ritmo na enxada, pois eram incontáveis os dias que ele passara a eliminar o mato que insistia em crescer no grande quintal da chácara. Mas não é certo, que meu pai, aos cinqüenta não conseguia viajar mil quilômetros por semana, representando uma grande empresa de gás. Fez isso, e com muita competência, garantindo a lucratividade que a organização esperava. Ou ainda que eu, com 44 não consiga administrar uma, duas ou uma grande rede de lojas. Hoje, os grandes pensadores da Administração garantem que virilidade e conhecimento podem não estar mais juntas, e alguns até provam isso. Peter Drucker, quando estava completando 92 anos, relatou em entrevista que ainda não era bom em matemática financeira, e iria se matricular em uma escola de Ciências Contábeis, para aprender a ser bom em contabilidade. Uma senhora, em Campinas, conseguiu passar no vestibular da PUC, tendo somente conseguido se alfabetizar depois dos 60, quando ficou viúva, e pode freqüentar supletivo. O Reitor da PUC acreditou nela, que tem a nobre vontade de ser escritora, assim como os maiores administradores do mundo se rendem a Drucker. Em recente contratação de uma empresa, a qual prestávamos serviços de consultoria, ficamos em dúvidas entre um "cinqüentão" competente, e um "quase trintão" com toda a energia. Por motivos diversos, a opção foi o mais moço, que nos mostrou uma bela eficiência em estrada, acordar cedo e dormir tarde, andar bastante, mas também revelou uma imaturidade não esperada, para decisões mais racionais, e durou menos que o esperado. Assim sendo, gostaria muito de que empresários, empreendedores, empregadores e similares prestassem mais atenção ao mercado, aos bancos das faculdades, e observassem que cada vez mais, aqueles que detêm a vivência, devido a exigências do mercado, estão buscando conhecimento. Estão se formando, lendo mais, ampliando seus universos. Só que encontram em um anúncio uma discriminação não constitucional, mais imoral e às vezes irracional, banindo do mercado de trabalho homens e mulheres altamente competentes. Nossa constituição é muito abrangente, e nem imagino que deveria também prever esta discriminação em seu artigo quinto, mas quem pode dar oportunidades, que abram mão de todos os seus pré-conceitos (assim mesmo), e entendam que a humanidade muda, cresce, recria valores. Isso chama EVOLUÇÃO. Garanto a todos, que em meus projetos de vida não incluem aposentadoria, pijamas ou quaisquer outros tipos de acomodação, mas sim uma constante melhoria de qualidade de vida, conhecimento e competência, coroados por uma longevidade que certamente vai deixar muita gente surpreendida.
*Valdo Garcia
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