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Trabalho voluntário

Por Equipe Portal
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Esse foi o tema da palestra ministrada pela assistente social Maria Cristina Dal Rio, no último dia 25 de maio, no Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE), na PUC-SP, durante o evento intitulado “Um velho sujeito, sujeito de si”, coordenado pela Profa. Dra. Ruth G. da Costa Lopes. Dal Rio falou sobre o trabalho voluntário, a partir de pesquisa realizada com aposentados que fazem atividades como voluntários, a fim de buscarem formas alternativas de inserção social e, em contrapartida, apreendem o resultado dessa ação para o desenvolvimento pessoal e da cidadania. 

Como a aposentadoria representa o afastamento do mundo produtivo e esfera pública, o afastamento do “mundo” e da mediação das políticas públicas, o enfraquecimento da sociabilidade, e a volta para o espaço privado: isolamento, invisibilidade; representa, portanto, a dificuldade do aposentado ser visto como ser, como categoria e ter seus direitos reconhecidos, comentou Dal Rio. 

De acordo com Dal Rio, hoje se fala em aposentadoria porque há uma maior visibilidade, seja pelo aumento do número de aposentados, seja pelas conseqüências sociais advindas da fragilização da saúde e da parte financeira; seja ainda pela negação da imposição de isolamento pela recolocação no espaço público, por meio das formas alternativas de vivência e opção por atividades de desenvolvimento pessoal. 

A pesquisa de Dal Rio, transformada em livro,[1] teve como principal objetivo conhecer as razões centrais que levam aposentados a se manterem socialmente ativos por intermédio do trabalho solidário. Ela contou com oito sujeitos, sendo três homens e cinco mulheres, para os quais ser produtivo em uma

fase mais amadurecida da vida comportava duas dimensões:  trabalho para si (sobrevivência, realização e ascensão social) e trabalho para o outro (prestação de serviço ao próximo baseado na solidariedade). Juntas, estas dimensões colaboram para dar sentido a uma vida ativa e atuante, como forma de exercer a cidadania e manutenção no espaço público, comentou Dal Rio.

Quanto a transição para aposentadoria, Dal Rio relatou que em um primeiro momento percebeu que aqueles que eram muito identificados com o trabalho tiveram dificuldades e sofreram, mas que aqueles que tinham investido em outros papéis e pelos que souberam aproveitar o tempo livre com atividades prazerosas tiveram equilíbrio. No segundo momento ela observou que a maioria dos seus pesquisados consegue se aposentar e dar a este tempo sentido de continuidade, de possibilidade de encontrar novas formas de ser produtivo. E uma das formas encontradas por esse grupo foi o envolvimento com o trabalho voluntário. 

A pesquisadora assinalou que o trabalho voluntário exercido por esse grupo era de atender valores sedimentados na solidariedade e religiosidade traduzidos por uma atitude pró-ativa frente às questões sociais acentuada no pós-trabalho, assim como a possibilidade de realização e aperfeiçoamento enquanto ser humano preocupado consigo e com o próximo, além de uma forma de abertura para o mundo. 

Entre as razões apresentadas, ela mencionou a retribuição, partilha de experiência ancoradas nos valores religiosos de trabalho e amor ao próximo; ter uma obrigação, compromisso para preencher o vazio da aposentadoria; e atitude de altruísmo que reverte em benefício próprio. O trabalho voluntário significou uma fonte de prazer, realização e projeção pessoais; um sentido à própria existência; e preservação de sua vida entre o espaço público e o privado.

Trabalho voluntário e sociedade 

Para Cristina Dal Rio, o voluntariado tem papel complementar às políticas sociais do governo, que devem atender às necessidades básicas dos cidadãos e cumpre um papel positivo o atual incentivo à ação solidária. No entanto, pontua a necessidade da compreensão do propósito da ação voluntária por quem a pratica e recebe. De fato o trabalho voluntário está a assentado em valores de solidariedade e religiosidade e num passado de realizações; dedicação à família, às ações solidárias, ao autocuidado; e ao lazer. Quanto aos projetos futuros dos seus sujeitos, eles estão voltados para o crescimento pessoal, realização de antigos anseios e apoio à construção da vida dos filhos. 

Segundo os depoimentos das pessoas velhas, o trabalho voluntário é algo real, embora nem sempre desejado, eles têm consciência de limites e possibilidades, preocupação com autocuidado para evitar a dependência e atitude pró-ativa diante da vida. Já segundo os pesquisados envelhescentes, as mulheres manifestam dúvidas e temor face às exigências da idade avançada enquanto os homens demonstram tranqüilidade por não preverem mudanças significativas na vida, apreendida como um continuum. 

Como resultado de sua pesquisa, Dal Rio aponta que aposentado voluntariamente ativo não emerge na aposentadoria. Para tal é necessário que a pessoa tenha predisposição às relações sociais, seja movida por sentimento de altruísmo e religiosidade, e que tenha construído a vida apoiada em várias fontes de reconhecimento e valorização, além do trabalho, que significa possibilidade de reestruturar-se mais facilmente no tempo do pós-trabalho. É uma maneira de ser e estar no mundo que dá sentido à existência.

Enfim, Dal Rio considera que o trabalho voluntário contribui para a desqualificação de estereótipos subjacentes às condições de aposentado e velho, ajudando a desenhar uma das formas possíveis de viver o pós-trabalho e a velhice, dando-lhes significados. Portanto, o trabalho voluntário pode ser entendido, também, como fonte de realimentação e desenvolvimento pessoais, continuidade da inserção nos espaços públicos e privados, atividade que propicie um lugar possível de atuação e significado, trazendo um reconhecimento do lugar social e espaço político para este segmento da população.


[1] Intitulado O trabalho voluntário: uma questão contemporânea e um espaço para o aposentado. São Paulo, Senac, 2004. Maiores informações podem ser obtidas no Mcdalrio@IG.COM.BR.