Hospedando a Terceira Idade Maria Luisa Trindade Bestetti - pesquisadora mentora O segmento da terceira idade torna-se, a cada dia, mais ativo e constantemente surgem novas entidades que congregam esses indivíduos, motivando-os a buscarem alternativas de emprego do seu tempo livre. O turismo configura-se numa atividade de socialização de extrema eficácia e atração a quem dispõe de uma renda definida e está disposto a empregá-la para seu lazer fora de casa. Esse segmento já tem demonstrado movimento crescente em outros países há muitos anos, e tem voltado sua atenção para os atrativos brasileiros. Destacam-se os grupos de terceira idade japoneses e holandeses, interessados principalmente em ecoturismo e freqüentemente direcionados às regiões com maior beleza cênica. O turismo tem sido considerado a indústria que mais cresce no Brasil nos últimos anos, fato que se configura no principal motivo de grandes redes operadoras aumentarem seus investimentos em diversas regiões do país. Além disso, até mesmo pequenas empresas hoteleiras têm dedicado sua atenção à modernização dos seus serviços, investindo na capacitação profissional e na adequação dos espaços físicos disponíveis aos hóspedes. Além disso, há um aspecto muito importante relativo aos benefícios trazidos aos empresários que os recebem: o segmento da terceira idade desloca-se na baixa estação, ocupando espaços antes ociosos e justificando investimentos nesse sentido. A existência de uma norma que determina condições adequadas de acessibilidade, a NBR 9050, em fase de revisão, não encerra o assunto e provoca a necessidade de que se busquem dados mais precisos no que se refere à biometria dos idosos brasileiros, considerando-se antropometria e outros fatores gerontológicos que influenciam no seu conforto. A maior fonte de pesquisa é européia, portanto não ilustrando a situação real brasileira, o que justifica o trabalho de pesquisa que venho desenvolvendo. Considero que a análise detalhada das necessidades de espaço e dispositivos tecnológicos em áreas de hospedagem num hotel pode trazer à luz conhecimento que hoje já se mostra necessário e indisponível. Além disso, podemos estender às áreas de serviço as mesmas condições ideais de acessibilidade, considerando-se a qualidade do espaço funcional e a necessidade da inclusão profissional daqueles que tenham sua capacidade física diminuída pela idade. Portanto, há dados novos e específicos a serem sistematizados em projetos arquitetônicos para hotéis, que serão de grande utilidade para os empresários do ramo. Considerando-se que a terceira idade é classificada hoje a partir dos 55 anos, visto que as leis trabalhistas brasileiras disponibilizam a esses indivíduos que se aposentem ao redor desta época de suas vidas, e que a expectativa de vida no Brasil é de cerca de 80 anos, há um grande potencial nessa massa consumidora, ávida por novidades que apresentem, também, conforto e segurança. A estimativa para 2050 é que cheguemos a viver até os 130 anos, o que certamente provocará uma revisão da atual situação de dispensa de profissionais dos seus postos de trabalho. Ainda assim, a tendência de aumentar o tempo livre já provoca o interesse por espaços de hospedagem adequados, pois esse se configura como um segmento em franca expansão. Também as áreas destinadas ao lazer e que podem compor o programa do hotel, tais como piscinas, campos de golfe e outros jogos merecem cuidados especiais, pois se tornam imprescindíveis como complemento às estruturas de hospedagem. Ao analisarmos que desde o desembarque, seja de pequenos veículos, vans ou ônibus, até a instalação nos espaços de alojamento, passando por áreas de refeição, reuniões e lazer, quer com atividades esportivas ou sociais, estaremos considerando pessoas que podem apresentar mobilidade física restrita pela degradação natural do organismo, além de possíveis limitações visuais e auditivas, como criar condições de desenho do espaço e uso de dispositivos tecnológicos adequados para oferecer-lhes condições irrestritas de segurança e conforto? A bibliografia existente e disponível para pesquisa sobre dados antropométricos do idoso é rara e apresenta poucas soluções aplicáveis aos espaços de hotel. Também questões psicodinâmicas, tais como as relacionadas às cores, formas e atividades, são elementos a serem aprofundados e melhor estudados. A sistematização desses dados pode suprir essa carência e contribuir para o avanço do conhecimento, pois permitirão uma aplicação direta em projetos arquitetônicos de hotéis, demanda concreta do mercado consumidor de produtos turísticos. Oferecerão mais conforto e segurança para o usuário da terceira idade, assim como melhores resultados técnicos e estéticos de projeto, com incremento de qualidade. |