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Terapia direcionada

Harold Varmus descobriu os oncogenes nos anos 80. Essas estruturas se mostraram fundamentais para o desenvolvimento das chamadas drogas inteligentes (foto: UFRJ)

Por Washington Castilhos

Prêmio Nobel de Medicina em 1989, o norte-americano Harold Varmus foi o responsável, ao lado de Michael Bishop (com quem também dividiu o prêmio), por uma descoberta que permitiu uma abordagem racional para a pesquisa e o tratamento do câncer. Ele descobriu os oncogenes, genes que desempenham papéis importantes na formação de tumores, quando afetados por mutações.

Em conferência no Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no dia 27, o pesquisador falou sobre a importância da descoberta, sobre as novas tendências para o tratamento da doença e os avanços das pesquisas nas últimas décadas. “Hoje em dia, conhecemos os genes importantes na indução e manutenção do câncer, que mutações ocorrem em cada tipo de câncer, as proteínas que esses genes produzem e que papéis elas desempenham na formação do tumor”, disse em entrevista à Agência FAPESP.

Varmus, presidente do Centro de Oncologia do Memorial Sloan-Kettering, lembrou que a descoberta dos oncogenes abriu caminho para a abordagem atual no tratamento do câncer: o desenvolvimento das chamadas drogas inteligentes, que atacam o tumor sem afetar células sadias. Esses medicamentos são direcionados a uma determinada mutação e, em vez de inibir indiscriminadamente as células que estão proliferando, inibem somente as células cancerosas. Antes, eram usadas drogas que, ao tentar atacar o tumor, agiam também em células normais.

A leucemia mielóide crônica é um exemplo de como a terapia direcionada pode funcionar. Esse tipo de tumor possui uma molécula mutada na membrana (tirosina cinase), enquanto as outras células estão normais. Então, pode-se fazer uma droga que só aja nessa molécula mutada, e só sirva para esse tipo de tumor.

Uma dessas drogas é o Gleevec, nome comercial de um medicamento usado para trombose e na leucemia mielóide crônica. Recentemente, Varmus e sua equipe provaram a eficácia do medicamento também no câncer de intestino, tumor normalmente resistente à maior parte dos quimioterápicos. Com o tratamento, conseguiram fazer com que o tumor primário e as metástases regredissem em apenas sete dias.

“O melhor momento para usar esses medicamentos é na fase de remissão, quando se consegue baixar o número de células cancerosas pela radioterapia, por exemplo, e não quando se tem uma grande quantidade de células tumorais circulantes, quando as coisas estão fora de controle”, disse. Durante sua pesquisa, todos os indivíduos já tinham sido submetidos a sessões de radioterapia.

Genoma completo

Para Varmus, no entanto, ainda há muito o que ser superado, como a resistência aos medicamentos. “Precisamos definir o porquê da resistência aos medicamentos, e quais drogas vão trabalhar nas proteínas que causam essa resistência. Temos de desenvolver cada vez mais estratégias inibitórias”, disse ele, lembrando de pesquisas feitas com outra droga da mesma família do Gleevec e aplicada em pacientes com câncer de pulmão. “A resposta foi muito marcante, mas sem aumento na sobrevida."

Outro passo que precisa ser dado, segundo ele, é completar o genoma do câncer. Opinião compartilhada por pesquisadores brasileiros. “Temos que saber quais genes têm um maior número de cópias e estão sendo expressos de forma desregulada e conseguir inibidores que consigam inibi-los no momento em que eles estão desregulados. O genoma do câncer vai nos permitir direcionar nosso olhar para aqueles que estão mais modificados”, afirmou Vivian Rumjanek, chefe do Laboratório de Imunologia Tumoral da UFRJ, durante a conferência na universidade.

A pesquisadora lembrou também da importância da descoberta feita por Varmus há 16 anos. “O feito nos permitiu personalizar mais a abordagem no tratamento da doença. Conhecemos o gene, a proteína e a via de sinalização e isso é muito importante”, disse.

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Fonte: Agência FAPESP
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=3942