Envelhecimento ativo no século XXI: participação, saúde e
segurança. Estabelecendo elos entre a pesquisa e a prática: Por Beltrina Côrte – Equipe Portal Cerca de 20 pesquisadores mentores do Portal do Envelhecimento estiveram presentes, entre aproximadamente 3000 inscritos, no 18° Congresso Internacional de Gerontologia, realizado pela primeira vez na América do Sul, na cidade do Rio de Janeiro (Riocentro), Brasil, de 26 a 30 de junho de 2005. Sua realização no Brasil se deu pelo crescente aumento da população idosa nos países em desenvolvimento, em especial na região sul-americana. Segundo a comissão organizadora, uma oportunidade única em que profissionais e estudantes da área do envelhecimento participaram, muitos pela primeira vez, de um evento internacional sem a implicação de grandes deslocamentos e custos. O congresso, que vinha sendo sediado por países europeus, asiáticos e norte-americanos, teve como tema central Envelhecimento ativo no século XXI: participação, saúde e segurança. Estabelecendo elos entre a pesquisa e a prática. O congresso, aberto com uma grande sessão plenária sobre Envelhecimento Ativo – definido como o processo de otimização de oportunidades de saúde, participação e segurança de forma a garantir qualidade de vida na medida em que as pessoas envelhecem -, seguida de duas conferências sobre as perspectivas culturais e de gênero para um envelhecimento ativo, proporcionou a apresentação das ações sociais, assistenciais e de pesquisa que vêm sendo desenvolvidas nas diferentes regiões e, ainda, o intercâmbio de informações e atualização de profissionais. Biologia, demografia, economia, epidemiologia e pesquisa social, saúde e prática clínica, processos comportamentais e personalidade, e física e ambiental foram as áreas temáticas centrais do congresso. Mas foram os seis determinantes de envelhecimento ativo, a saber: serviços de saúde e serviços sociais; determinantes biológicos e individuais; determinantes comportamentais; meio ambiente e barreiras arquitetônicas; determinantes sociais; e determinantes econômicos, que têm em comum o corte transversal da cultura e de gênero, as vertentes sobre as quais ocorreram as sessões paralelas apresentadas na forma de conferências, grandes sessões plenárias, simpósios, mesas redondas, vídeo conferência, pôsteres, etc. Durante o congresso, o médico brasileiro e diretor do Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), Alexandre Kalache, lançou um projeto, elaborado pela OMS, de âmbito mundial para proteger os idosos, intitulado, Towards an Ageing Friendly Society. O projeto, batizado no congresso como “Amigos dos Idosos”, tem como objetivo estabelecer um “index” das necessidades dos idosos, para medir e comparar as sociedades mais preocupadas e preparadas em proteger e melhorar a qualidade de vida do idoso. Entre os temas a serem pesquisados, está o transporte público, o índice de criminalidade contra os idosos, a facilidade dos acessos a recreações, atividades físicas, qualidade dos calçamentos, serviços de saúde e sociais. De acordo com Kalache, os locais que estiverem fora dos padrões estabelecidos no Projeto serão trabalhados para que melhorem suas condições, já que, segundo as mais recentes pesquisas, no ano de 2050 a população de idosos será de 2 bilhões, sendo que 1.7 bilhão estará vivendo em países em desenvolvimento. No evento, observamos que as tendências atuais de pesquisa em geriatria são: prevenção e promoção de saúde; relação entre estilo de vida e envelhecimento; tratamento das demências; análise genômica em biologia do envelhecimento; doenças crônico-degenetarivas; e cuidados ao fim da vida. Já as tendências atuais de pesquisa em gerontologia, são: educação e treinamento num mundo que envelhece; custos do cuidado de pessoas idosas dependentes; fragilidades e reabilitação preventiva; envelhecimento rural; gerontologia ambiental; heterogeneidade do envelhecimento em sociedades com desigualdades sócio-econômicas intensas; direitos humanos e violência contra os idosos; curso de vida; e mecanismos da memória e da reabilitação cognitiva. As sessões contaram com a presença de diversos especialistas de renome internacional, tanto da área de geriatria como de gerontologia. Muitos oriundos dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, Japão, França, Itália, Espanha, Suíça, Países Nórdicos, China, Brasil, Argentina, México, Colômbia, entre outros. Estiveram presentes mais de 60 países, que contribuíram com cerca de 2.300 contribuições espalhadas nas diversas sessões. Sessões das quais participaram inúmeros pesquisadores e profissionais de todo o mundo, entre eles muitos pesquisadores mentores do Portal do Envelhecimento. Muitos deles apresentando comunicações orais, pôsteres, simpósios, outros secretariando ou presidindo mesas. Abaixo as primeiras impressões de pesquisadores mentores e colaboradores do Portal. Congressos anteriores: breve comparação Por Ursula Karsch - pesquisadora mentora
Eu, que já fui a 4 congressos da Associação Internacional de Gerontologia (IAG) anteriores a este (Acapulco 1989, Budapeste 1993, Adelaide 1997, Vancouver 2001), e fui uma das vozes que votou para que o 18º Congresso fosse no Brasil, voltei para São Paulo com a seguinte impressão: este nosso congesso brasileiro-internacional sofreu duas intercorrências inusitadas: 1. Muitas apresentações foram em português (até as apresentações em data-show) e impediram a divulgação internacional, o que nos diminuiu, sem dúvida, até para a divulgação face a face, como deve ser num evento desta envergadura. 2. Houve, por parte dos conferencistas, palestristas, coordenadores de mesas, etc. muita dificuldade de acompanhar as mudanças organizacionais de última hora: algumas palestras e horários e locais foram modificados, e muitas conferências foram perdidas. No cômputo geral e final, creio que foi mais uma oportunidade de conhecer a "comunidade gerontológica" mundial, importante para fortalecer qualquer iniciativa acadêmica na área, e as diferentes abordagens multidisciplinares que estão sendo feitas, mas que ainda não agregam a interdisciplinaridade desejada. Foi um congresso, que mais uma vez, alertou para o mundo, que ainda não se sabe como conduzir o combate à resistência da sociedade ante o envelhecimento populacional. No mais, mostrou que há uma nova geração interessada em estudar e acompanhar o envelhecimento no Brasil. Investimento alto e desorganização Por Carlos Alberto Moraes - pesquisador mentor Encontrar as pessoas queridas, trocar idéias e matar as saudades. Conhecer pessoas de outros Estados e Países. Ter contato com ampla bibliografia e possibilidade de adquiri-las. Estes foram os principais pontos positivos do congresso, mas quero deixar aqui registrada a minha profunda tristeza em ter investido tanto (não só em termos financeiros, mas em tempo e energia) para um evento tão importante e tão desorganizado. Sei que dá um trabalhão imenso organizar qualquer evento, mas se pensarmos que o valor cobrado foi em dólares e que tiveram um número bastante grande de participantes, acredito que poderiam ter, ao menos, uma organização adequada. No meu caso, gastei 350 dólares (na ocasião, 940 reais) de inscrição no Congresso (porque o fiz na época de seu lançamento, no ano passado na Bahia); 450 reais de inscrição para a prova do título de especialista em Gerontologia pela SBGG; 210 reais de passagem aérea; 1.100 reais de hospedagem; 180 reais de 2 pôsteres, mais em livros, refeições, transporte... Foram investidos 4.150 reais em uma semana!! Tive que brigar para trazer um certificado que foi impresso com o título do trabalho numa linha torta. Outro certificado ficou de ser enviado pelo correio juntamente com os Anais que é o que valeria como publicação...(e não estou certo que os receberei!). Coffee break não havia. Tínhamos umas "oferendas" de lanchinhos que se percebiam pelas longas filas. Percebi várias alterações de palestras para salas e até horários que não eram notificados com clareza aos participantes. O livro da programação final foi organizado de maneira pouco prática para localizarmos os temas de interesse e os horários das palestras concentradas em determinados períodos com tempos de intervalos muito longos que nos convidavam a desistir da programação. O Riocentro era muito longe dos hotéis, instalações desconfortáveis, com pisos inadequados (tivemos vários acidentes), um, inclusive, com intervenção cirúrgica. “Estamos em várias áreas na vanguarda” Por Marília Berzins – pesquisadora mentora
Tive muito prazer em participar do "The 18 Congress of the International Association of Geronology". Gostei do congresso e avalio que as minhas expectativas foram atendidas. Pude assistir as palestras de acordo com as minhas principais áreas de interesse (violência, ILPI, políticas de saúde). A minha dificuldade foi escolher qual eu assistiria uma vez que várias palestras coincidiam com o meu interesse ao mesmo tempo. Cito como exemplo as palestras que desenvolveram o tema do Envelhecimento Ativo. Gostei muito da sessão nº 161 que abordou o Envelhecimento na África, proferida pela prof. Nana Apt, de Gana. Foi muito impactante ouvir a situação dramática do continente africano, principalmente sobre a Aids e envelhecimento.
Foi enriquecedor saber que a população africana é a mais jovem do mundo, a que envelhece mais lentamente. E que dos 54 países pertencentes ao continente africano, apenas em 9 deles é que a AIDS é endêmica. Teria muitas coisas a destacar, mas, gostaria de comentar de que tudo o que vi e ouvi, pude concluir que o nosso país não está atrasado ou desatualizado com suas políticas, discussões e conteúdo téorico sobre o envelhecimento em relação aos países desenvolvidos. Posso até afirmar que estamos em várias áreas na vanguarda. Interessantes reflexões Por Vera Brandão – pesquisadora mentora O Congresso Internacional de Gerontologia, após seu término, nos oferece a oportunidade de interessantes reflexões. Primeiramente em relação à (des)organização que foi uma das suas marcas negativas e impediu que a maior parte dos participantes pudesse realizar um verdadeiro “mergulho profundo” nos temas do envelhecimento, objeto de nossos estudos, pesquisas e trabalho docente. O grupo de professores do Programa de Gerontologia da PUC-SP e de pesquisadores mentores do Portal do Envelhecimento, um deles de Portugal, enfrentou um sério imprevisto com a mudança da data do Simpósio – Identidades da Velhice nas Interfaces Comunicativas. Do oral ao virtual: a palavra do velho -, que o representava (da qual só fomos informadas no domingo à noite, por meio da leitura de um pequeno pedaço de papel (errata) que estava solto dentro da pasta fornecida, e que poderia ter passado desapercebido).
Além disso, o mesmo coincidiu com o horário da apresentação de vários pôsteres dos membros deste simpósio, nas sessões “Longevidade e Sociedade” e “Envelhecimento saudável”, impedindo a todos que fizessem os contatos tão importantes e necessários aos seus trabalhos. Entende-se que a língua oficial de um congresso internacional seja a inglesa, mas não se justifica a falta de tradução simultânea em todos as salas, justificada pelo seu alto custo, já que o investimento feito por todos os participantes foi considerável, tendo em conta que muitos participantes, especialmente os da área de gerontologia, não tiveram nenhuma subvenção para tal evento. Acreditamos que os pesquisadores devam ter um melhor domínio da língua inglesa prevalente, hoje, em Congressos e para artigos científicos, mas também devemos ser realistas e considerar que em um país em desenvolvimento, como o nosso, esta é ainda uma questão a ser encarada. A reflexão que fica é a de que se quisermos avançar, nas pesquisas e na participação de eventos internacionais, devemos suprir esta dificuldade inerente à formação da maioria dos estudantes, ressaltando que isto não invalida a consideração feita acima em relação à tradução simultânea em todo o evento. Ademais, diplomaticamente não se justifica um congresso realizado no país anfitrião não ter sua própria língua como uma das oficiais. Não faltaram comentários a respeito, indo desde subserviência até desrespeito ao próprio país que recebe seus convidados. Mas tivemos também muitos momentos interessantes, e que compensaram nossa participação. Além de muitos contatos com colegas brasileiros, tivemos a oportunidade de conhecer e conversar com pesquisadores de universidades estrangeiras e nos certificarmos que nossas pesquisas, na área das Humanas e Sociais, estão atualizadas e que enfrentamos dificuldades comuns, seja na pesquisa seja no cotidiano de nossos trabalhos como docentes ou profissionais de área. No meu caso específico, tive a oportunidade de assistir uma mesa sobre Memória Autobiográfica, extremamente rica e interessante, com pesquisadores do Japão, Estados Unidos, Espanha e Reino Unido que apontaram para a relevância do tema e fortalecem o trabalho que realizamos com o apoio do Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento -NEPE, da PUC-SP, desde 1997. Outra valiosa experiência foi a mesa sobre pesquisa interdisciplinar na área da Gerontologia, com pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Finlândia, que também apontaram para as preocupações, dificuldades e problemas comuns enfrentados para os trabalhos que seguem esta orientação. Aliás, a pesquisa interdisciplinar entre as diversas áreas do conhecimento é apontada como a mais eficaz para se estudar o envelhecimento. Outras atividades, como vídeos e pôsteres, trouxeram experiências e reflexões pertinentes aos trabalhos e pesquisas por nós desenvolvidos, incentivando-nos a prosseguir. O convívio com alguns colegas de trabalho, os novos contatos, a troca de experiências, a conversa informal no final da jornada e o mar azul do Rio de Janeiro, apreciado no início e final do dia durante o percurso dos hotéis até o local do congresso, contribuíram para que o balanço final deste evento fosse positivo. Estamos em jornada e, todos os dias, vários fatos novos, bons ou não, acontecem. Vamos tirar ensinamentos deles e prosseguir?
Cuidado e cuidador
Por Lucia Zani -
pesquisadora
mentora
Foi gratificante participar do 18º Congresso
Internacional de Gerontologia, apresentar um pôster sobre os homens de 50 e
tantos anos e os novos papéis sociais, tema inspirado no meu pai, falecido uma
semana antes do congresso (dia 21 de junho). Embora muito frágil
consegui ouvir as falas sobre cuidados e cuidadores, área de meu interesse de
investigação. Nas palestras pude observar a importância do profissional na
assistência da saúde, e o quanto a familia necessita de nossos conhecimentos
técnicos. Percebi a dificuldade que temos quanto ao cuidado e ao cuidador e,
ao mesmo tempo, o quanto somos criativos em lidar com situações desconhecidas
e inesperadas, transmitindo segurança e confiança a todos que estão cuidando
de seu ente querido.
O conteúdo do congresso foi muito bom, mas não
posso falar o mesmo da organização. Passei um bom período - o qual gostaria de
estar nas salas ouvindo outros pesquisadores - tentando saber onde iria expor
o pôster, e não consegui receber o certificado. Mas essas dificuldades
materiais me fizeram entender que a vida é muito mais valiosa do que
pensávamos. Hoje estou sem meu pai, mas com muita tranqüilidade posso dizer e
sentir o prazer de ter acertado e estar com o dever cumprido!
Determinantes sociais de saúde sobre o curso de vidaPor Arlete Salimene* Este foi o título da mesa redonda, coordenada por Alexandre Kalache, membro da Organização Mundial de Saúde para a América Latina e Caribe. A mesa focou as questões determinantes do envelhecimento e da velhice nos países em desenvolvimento, ao que chamou “entendimento sobre as causas das causas” para um comportamento não saudável, gerador de doenças transmissíveis ou não transmissíveis e de altos índices de mortalidade. Os membros da mesa destacaram a necessidade de apreender o que há por trás das causas, como: pobreza, renda, desemprego, carência de habitação, baixa escolaridade, tabagismo e alcoolismos e estilos de vida que comprometem a saúde ao longo do curso da vida, com forte impacto na velhice. Todavia, destacaram que tais causas não dizem respeito a tendências individuais tão somente. Chamaram a atenção para as questões políticas e de forma de produção locais como imperativas e constituintes das condições de vida de uma população. Embora não se aprofundando nessas questões, os membros da mesa mostraram dados estatísticos, diferenças significativas e semelhanças entre países da África, Rússia, Índia e Brasil. Apontaram que o impacto da pobreza sobre a saúde da população pode ser minimizado por meio de políticas públicas adequadas, citando como exemplo o caso da Índia, país que promoveu a inclusão social de mulheres, investiu na educação e na proteção social, fatores que trouxeram forte impacto na qualidade da saúde da população. Assinalaram que doenças não transmissíveis como diabetes, obesidade mórbida, distúrbios cardíacos e vasculares são fatores de risco que devem ser prevenidos na infância com políticas públicas de prevenção. Para o entendimento da causa das causas das doenças há que também, além de fatores individuais, levar-se em conta a família como núcleo de valores, de comportamento de exposição à informação e de estresse. E, ainda, apreender-se as determinantes sociais globais como causadoras de impacto na saúde da população. A visão difundida e debatida nessa mesa vem ao encontro da preconização da VIII Conferência de Saúde, realizada em 1984, em Brasília, e que foi geradora do Sistema Único de Saúde – SUS. Nesse importante momento histórico da Reforma Sanitária no Brasil adotou-se como conceito norteador que a qualidade de saúde da população é resultante de determinantes históricas, conjunturais e estruturais de um povo ou nação. Ou seja, mantém relação direta com meios de produção, trabalho, renda, acesso à informação, educação, lazer, habitação, alimentação. Observamos, portanto, que o debate da Organização Mundial de Saúde já conta com 20 anos no Brasil. Temos avançado nessa concepção: que o envelhecimento saudável depende, sobretudo, de uma via saudável e esta mantém estreita relação com a conjuntura e estrutura de uma nação. *Arlete Salimene – Doutora em Serviço Social pela PUC-SP e membro do Grupo Epidemiologia do Cuidador (PUC-SP) Envelhecer com boa saúde é um “Valor universal” Por Bernadete Oliveira - pesquisadora mentora Na mesa intitulada “Envelhecimento ativo no século 21: participação, saúde e segurança”, Irene Hoskins, Canadá, falou sobre os fatores determinantes do envelhecimento ativo entre 2000 e 2020: econômico, ambiente físico, serviço de saúde e social e comportamental. Dentre eles, o comportamental ocupa o primeiro lugar, por causa da epidemia global do fumo entre crianças e jovens. Em segundo lugar, a alimentação. Hoskins afirmou que em 2000 o número de obesos era de 300 milhões, sendo que 170 mil estavam nos países em desenvolvimento. Isso porque a utilidade física da população mundial é insuficiente, ou seja, 65% destas pessoas não são ativas fisicamente, gerando 200 milhões de morte/ano por falta de atividade física. Em terceiro lugar, está o ambiente físico, pela falta de saneamento e moradia. Esse fator relaciona-se diretamente com o limiar de invalidez, pois o ambiente é hostil para idosos. A assistência primária tem como prioridade tornar o ambiente amigável para a idade. Em quarto lugar, está o econômico, visando a renda e o trabalho. Segundo Hoskins, 80% da população mundial está sem cobertura adequada para a proteção social: desemprego, maternidade, diferentes doenças em distintos momentos da vida. A população, também, não tem acesso ao trabalho ao longo da vida e os idosos são excluídos do mercado de trabalho. Em quinto lugar está o acesso aos serviços de saúde e sociais. O acesso universal visa, na comunidade, detectar e gerenciar doenças; manter os cuidados primários de saúde, como a capacidade funcional e o tratamento das doenças. Promovendo, assim, um sistema que integre saúde e social, tendo como base a transição epidemiológica. Os fatores determinantes do envelhecimento ativo foram analisados, também, a partir das perspectivas de gênero (The “gender” lens) e de cultura (The “cultural” lens), pelas palestrantes Peggy Edwards e Jane Barraltt, respectivamente. Gênero, por ser o prisma através do qual é considerada a adequação das várias opções de políticas e de como elas irão influenciar o bem-estar dos homens quanto das mulheres. Cultura, que permeia todos os indivíduos e povos, determinando a forma com que envelhecemos porque elas influenciam todos os outros determinantes de envelhecimento ativo. Sabendo-se que o sexo determina as características biológicas distintas entre homens e mulheres e que o gênero provém da construção social, determinando o que está reservado para o homem e para a mulher durante o curso de suas vidas (o papel social, o comportamento e a expectativa de uma certa sociedade); definiu-se diferenças entre a igualdade de gênero que, na atualidade, relaciona-se com a ausência de diferenças entre oportunidades. A busca de equidade nos direitos e benefícios, durante o curso de vida, é uma tentativa para se obter justiça social. O aspecto cultural traz os fatores econômicos e de serviços de saúde e social integrados à cultura, gerando desigualdades no envelhecimento. Sendo assim, as ações não ocorrem com equidade em condições sociais e culturais desiguais. Então, como implementar investimentos sensíveis à cultura? O que essas ações significam para pessoas impactadas sobre essas decisões? Como uma alta hospitalar irá afetar essas pessoas em suas casas? Recorreu-se a duas lentes para incluir o envelhecimento ativo nas políticas, a saber: Alexandre Kalache falou sobre o “envelhecimento ativo: do conceito para a prática”, começando por dizer que o envelhecimento ativo é um processo que precisa ser visto dentro do prisma de curso de vida, numa visão intergeracional, de qualidade de vida, pautado na ética, na sociedade e nas questões de desenvolvimento. Portanto, o envelhecimento é constante, é para qualquer idade! Ele salientou que é preciso iluminar as políticas necessárias. E para tal é essencial otimizar a saúde, que vem em primeiro lugar. Enfatizando que envelhecer com boa saúde é um “Valor universal” e que por um lado depende do indivíduo, de sua responsabilidade e de como busca oportunidades para cuidar da boa saúde. É essencial a participação para que ele não seja excluído da boa saúde. Por outro lado, deve existir proteção, pois se de alguma forma o indivíduo perder a sua saúde, os cuidados devem ser garantidos. Kalache ressaltou que o objetivo fundamental é melhorar ou aumentar a oportunidade de boa saúde para todos os indivíduos que vão envelhecer, preocupando-se também com pessoas que estão envelhecendo devido aos recursos tecnológicos, como “pessoas congeladas em seu desenvolvimento desde um acidente, por exemplo”, comentou Kalache. Como aumentar os ganhos e minimizar as perdas? Por Beltrina Côrte – pesquisadora mentora
Esta frase foi várias vezes repetida pelo famoso investigador Paul Baltes, do Max Planck Institute de Berlim, durante sua conferência sobre o modelo psicológico de envelhecimento bem sucedido, na manhã do dia 29 de junho. Uma das apresentações mais concorridas pelos inúmeros participantes.O envelhecimento, definido por Baltes, por diversos indicadores – não só saúde - começa com a concepção e é individual. Segundo ele, quanto mais anos tivermos, a separação entre objetividade e subjetividade será maior. Daí a grande pergunta: como aumentar os ganhos e minimizar as perdas? A isso ele chama de arquitetura biocultural, em que é fundamental focar na plasticidade humana, a qual fica reduzida com o aumentar dos anos. Baltes está cada vez mais convencido, pela sua própria experiência de vida e de pesquisador, na necessidade da cooperação interdisciplinar para seguir a plasticidade genética, neuronal, comportamental e da sociedade para compreender o envelhecimento. Segundo ele, a longevidade e a mortalidade têm a ver com a plasticidade. Ele vai mais além e diz que é a plasticidade que permite a longevidade. Baltes pergunta: se os genes humanos são os mesmos do século passado, o que faz as pessoas viverem bem mais hoje? E ele mesmo responde: é a cultura. Por isso ele incita a biologia a explorar mais a cultura. Para ele, a 4ª idade consiste no maior desafio deste século. Sendo que a arte da vida está no nível subjetivo e não no objetivo. Daí a necessidade de estudos científicos sobre o envelhecimento. Segundo Baltes, o desejo não é comportamento. O conhecimento não é comportamento. Isto é, saber não é suficiente para haver mudanças. O potencial de energia residente em cada um é o que permite continuar a Selecionar, a Otimizar e a Compensar (SOC). O SOC é, para Baltes, uma metateoria do envelhecimento como desenvolvimento humano. Daí a importância do estudo da plasticidade do comportamento humano. De 80 a 90% dos recursos de uma pessoa de 90 anos vai para a parte física, para a pessoa manter o seu controle motor, enquanto o jovem o faz mecanicamente. O pesquisador encerra sua conferência falando da importância de se revisitar o mito de Sísifo, de reinterpretá-lo, pois a sabedoria está nele. Isso ajudaria as sociedades a envelhecerem melhor, pois a vida é uma aventura e se escolhermos a metade certa, certamente esta metade será mais que a metade do todo, concluiu Baltes. O texto completo de sua fala pode ser consultado no site www.baltes-paul.de |