E quando chegar a envelhecência?Cinthya Leite - pesquisadora mentora Entre uma leitura e outra dos textos que analisam o processo de envelhecimento, uma palavra chama a atenção: envelhecência➊. Nos dicionários, nada consta sobre o vocábulo. Bem, pelo contexto, fica fácil: é um período do desenvolvimento humano caracterizado pela passagem da maturidade para a velhice. Mas a suposição não satisfaz, e sim as condições sociais que a palavra guarda. Teria sido ela inspirada no significado do verbete adolescência, já usado no século 14? Ou seria uma nova forma de nomear a faixa etária de transição ou middle age (como dizem os americanos), apontada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a fase entre 40 e 65 anos. Conclusão: é uma mistura de ambos apontamentos. “É um termo popular definido como o período de preparação do adulto para a velhice, semelhante à adolescência, que é a preparação para a fase adulta”, confirma a psicóloga Eliane Vieira, que é mestre em gerontologia➋ - sim, é uma conquista! Desde 1961, existe uma ciência no Brasil,que estuda os aspectos biopsicossociais do envelhecimento. Ela vai mais além e fornece detalhes extras para explicar que o novo verbete está em uma fase entre a maturidade e a velhice. “Todas as fases de maturação do ser humano são precedidas de outras que possibilitam o indivíduo de se preparar para vivenciá-la. Isso não seria diferente com o envelhecimento”, esclarece Eliane, no livro Manual de Gerontologia (Ed. Revinter). Do mesmo jeito que os púberes precisam de uma atenção especial para compreender as mudanças que acontecem na puberdade, os envelhecentes necessitam de cuidados para enfrentar os impactos sociais e as dúvidas que vêm com a meia-idade, como o medo de envelhecer. Veja bem: ninguém precisa desenvolver receios, desde que haja uma preparação para a senilidade. Já dizia o acadêmico Barbosa Lima Sobrinho➌, aos 23 anos, que envelhecer é uma doçura. “Não temas envelhecer, meu jovem amigo, desde que envelheçam contigo as tuas paixões de hoje. A velhice não é má, nem martirizante. Tu poderás descobrir, na tua ancianidade, prazeres que ignoravas e que te declinarão mais que os teus gozos de hoje, porque nesse tempo a tua alma será muito mais sensível e muito mais meiga”, escreveu em 1920, quando nem se falava ainda em Programa de Preparação para a Aposentadoria (PPA), que surgiu nos Estados Unidos na década de 50, e, no Brasil, na década de 70. Hoje, algumas as empresas já colocam em prática, embora que timidamente, os fundamentos da responsabilidade social e investem em ações para preparar os empregados para a aposentadoria. Elas enfatizam, principalmente, a importância de as pessoas fazerem da aposentadoria um ócio criativo. Ou seja, reorganizar a vida com uma ocupação significativa; engajadas em projetos voluntários, em clubes de dança ou em instituições acadêmicas. Entra o reforço de que a envelhecência deve ser mesmo levada em consideração. Analise comigo a importância: estima-se que, no Brasil➍, existem cerca de 37 milhões de pessoas entre 40 e 64 anos (justamente na chamada meia-idade estabelecida pela ONU). Como elas estarão psicologicamente, daqui a alguns anos, caso não recebam um esclarecimento sem drama da velhice? E o pior: a maioria dos 7 milhões¯de indivíduos de hoje, entre 65 e 74 anos (considerada faixa dos idosos pela ONU), não se prepararam para envelhecer, ou seja, para aceitar os cabelos brancos, as rugas do rosto. Ficam, então, à procura da eterna e artificial fonte da juventude. É uma pena, pois - como já diz a psicóloga Ecléa Bosi – deveríamos ainda estar engajados, durante a velhice, em causas que nos transcendem, que dão significados a nossos gestos cotidianos. Trocando em miúdos, significa dizer que, aceitar os anos a mais não implica negar os papéis sociais e ficar parado, sem novas funções. Pois é, nada de desperdiçar os potenciais dessa geração de envelhecentes e envelhecidos. Isso tudo serve para mostrar que os adultos de hoje (não mais crianças, nem adolescentes e tampouco envelhecentes ou envelhecidos) não podem submeter nossos idosos ao descaso. Parar e observá-los, escutá-los... Conversar com eles, trocar idéias... São atitudes puramente gostosas e que levam a uma experiência fantástica. E aí, está esperando o que para experimentar? Referências
➊VIEIRA,
Eliane Brandão. Manual de Gerontologia: Um Guia Teórico-Prático para
Profissionais, Cuidadores e Familiares. São Paulo: Revinter, 2004: 115. |