Os velhos e o trabalho
Por Ana Maria Ramos Sanchez Varella – pesquisadora mentora
Cronos ou Kairós, em que tempo está o idoso? A expressão naquele tempo, o meu tempo, falta de tempo tornaram-se comuns no dia a dia. A questão é mais profunda: o que os homens estão fazendo com o seu tempo? Novos caminhos podem ser abertos para os jovens pensarem no tipo de vida que levam e aproveitar as experiências para seu próprio crescimento.
O que fazer com o tempo livre, aproveitar melhor o tempo, saber viver bem o tempo, são questionamentos no cotidiano das pessoas, independentemente da idade que tenham. Entretanto, tratar do assunto para os velhos é um pouco mais complicado. É necessário entender a questão da longevidade. Viver mais para quê, se poucas condições de vida estão sendo dadas aos idosos? Será que longevidade e tempo livre combinam?
Para que viver mais se não há como viver bem? Sem dinheiro, sem esperança de dias melhores, sem moradia, sem nada. Enfim, há muitos questionamentos a serem feitos. Até que ponto as empresas podem colaborar com o indivíduo, ajudando-os a viver mais uma fase da vida com luz, esperança e atividade enquanto há tempo?
Longevidade, o tempo e sua transformação
Segundo Izquierdo (2002), na era cristã eram poucos os que atingiam os 25 anos de idade. Ele acrescenta que na Idade Média, quando a Europa foi devastada pela peste e outras doenças a situação era pior ainda. No Brasil, no início do século XX a expectativa de vida era de 40 anos, enquanto na Europa era de 50 anos. Para o autor:
No último século, a medicina deu seu grande salto, especialmente de 1950 para cá; houve um enorme progresso da ciência médica básica e mudanças tecnológicas que trouxeram aumento dos conhecimentos. Assim do ponto de vista da saúde, as pessoas vivem mais e melhor hoje do que cinqüenta anos atrás; pelo menos, com menos sintomas de doenças ou podendo tratá-las. (p.13)
Izquierdo ressalta que a riqueza das nações e a sua distribuição de renda também são fatores muito importantes. Hoje, segundo Baulieu (apud Morin, 2001, p. 244), vive-se um período revolucionário na história da humanidade, pois a cada quatro anos, a expectativa de vida aumenta um ano. Segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), em 2025 os idosos serão cerca de 33 milhões e com esse dado o Brasil ocupará o 6º lugar no ranking mundial de população idosa. Ficará atrás da China, Índia, Comunidade dos Estados Independentes, Estados Unidos e Japão.
Cunha (2002, p. 8) acredita ser uma conquista o aumento da população idosa, a preocupação com uma vida saudável e com qualidade de vida também é uma grande contribuição para a longevidade. De novo Balieu (citado por Morin, 2001, p.243) afirma que a longevidade é a duração do tempo que se passa na vida, enquanto que o envelhecimento exige do indivíduo alterações das qualidades de vida. Ele ainda complementa que o fenômeno da longevidade é conseqüência de tudo o que o ser humano conseguiu por meio das mudanças: na habitação, alimentação, nas práticas sociais.
Minois (1999, p.18) acredita que cada sociedade tem o velho que merece e que cada organização socioeconômica e cultural é responsável pelo papel e imagem de seus velhos. Cunha (2002, p. 8) diz que os idosos também são grande força de sustentação das famílias, com suas aposentadorias, às vezes passam a ser a única fonte de renda da família. Com esse gesto, têm orgulho de participar, não querem se sentir inúteis. O autor ainda acrescenta que além da família, o idoso tem outros meios de crescimento individual: numa tarefa voluntária, nos grupos de terceira idade, nos contatos sociais.
Izquierdo (2002, p.13) questiona essa longevidade tão valorizada pela medicina, pois hoje se vive mais, mas o homem é mais feliz por isso? Sente-se melhor? Se do lado da saúde pode-se responder que sim e do ponto de vista humano? É imprescindível pensar em todos os habitantes da terra, principalmente na qualidade de vida proposta às crianças e jovens. O autor questiona o acúmulo de sobrecargas emocionais atribuídas a essas fases.
Ele assinala que o tempo pode ser um recurso para o equilíbrio das ações. Se a longevidade já é uma verdade, portanto cada fase pode ser vivida com equilíbrio, com seus sonhos, aproveitando também o tempo livre exigido em cada tempo de vida.
O trabalho e o homem, a ligação natural com a empresa: Vínculo forte? Quando se fala em trabalho, voltamos à sociedade pré-industrial, para mostrar um tipo de trabalhador sem possibilidade sequer de se equiparar a sujeito de direito. Na escravidão, não havia um sistema de normas jurídicas, de direito do trabalho. Já na servidão, mesmo recebendo certa proteção militar e política do senhor feudal, donos das terras, os trabalhadores também não tinham direitos trabalhistas.
As corporações de ofício da Idade Média trouxeram maior liberdade ao trabalhador. Nas corporações as pessoas se agrupavam em uma única localidade. Cada corporação fazia seu próprio estatuto com normas para disciplinar as atividades dos trabalhadores, que se dividiam em categorias: mestres, companheiros e os aprendizes. Mestres eram os proprietários das oficinas e aprovados segundo os regulamentos da corporação, na confecção de uma obra mestra. Equivalentes aos empregados de hoje. Os companheiros eram os trabalhadores livres e recebiam dos mestres seus salários. Os aprendizes eram menores que recebiam dos mestres ensinamentos de ofício ou profissão.
Aspectos econômicos, políticos, jurídicos e de justiça social fazem parte do direito do trabalho. Surge a Revolução Industrial, no século XVIII, com a descoberta do vapor como fonte de energia e da sua aplicação nas fábricas e meios de transporte e com isso houve a substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado. Em relação aos aspectos políticos mais significativos foi a transformação do estado Liberal em Estado Neoliberalista. Os trabalhadores passaram a reivindicar por meio de sindicatos que os representava. Para que todas essas modificações fossem feitas, a idéia de justiça social ficou cada vez mais difundida como reação contra a questão social.
No período contemporâneo o direito do trabalho tem sua consolidação, há uma regulamentação jurídica das relações de trabalho. O direito do trabalho, ainda mantém seus objetivos iniciais, mas é também uma coordenadora de interesses entre o capital e o trabalho. Ganham destaque na sociedade pós-industrial as pessoas que detêm o conhecimento e a informação. Conceito de classe e de lutas de classes sofre grandes modificações diante dos novos segmentos sociais, entre eles os consumidores, aposentados, ambulantes, imigrantes e outros. A globalização da economia é um fato irreversível. Vive-se num mundo com pouca mão de obra. A tecnologia substituiu o trabalho humano.
Hoje há uma desnecessidade cada vez maior de quadros numerosos de empregados. Com isso há um aumento do desemprego e do subemprego em escala mundial. Torna-se necessário ir atrás de novas profissões. Alguns países já trabalham com a pré-aposentadoria, 700.000 trabalhadores, na França já se beneficiam desse sistema. O sistema concede aos trabalhadores com 55 anos 70% da renda até completar a idade para se aposentar. Alemanha e Itália também têm seus ajustes sociais nessa área.
Segundo Rüdiger (p.148), vive-se um momento de desestruturação de conceitos, ideais, valores Se o trabalho era apontado como meio para satisfazer as necessidades básicas do homem está sendo atacado, modificado. Ele acrescenta que historicamente é comprovado: o homem precisa de um outro meio de satisfazer suas necessidades individuais, que, por sinal, passaram a ser chamadas sociais. O autor ainda é partidário de que é imprescindível redefinir o papel de pessoas ameaçadas pela exclusão. Ele é contrário à idéia de que a iniciativa privada seja a responsável por essa transformação.
O Estatuto do idoso
Em 2003, mais precisamente em primeiro de outubro, a lei 10.741 apresentou O Estatuto do Idoso. Sem dúvida, ele abre novas perspectivas, entretanto o que se sabe é que leis de proteção ao idoso sempre existiram, mas pergunta-se: foram colocadas em prática?
Direito à vida, à liberdade, ao respeito, à dignidade, alimentos, à saúde, à educação, cultura, ao esporte, lazer, à assistência social, à habitação, ao transporte, à previdência social, à profissionalização e ao trabalho etc. Realmente, parece completo esse Estatuto, mas muita discussão por pouco tempo, hoje, após um ano, quase nada se fala a respeito.
“O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas” (artigo 26). Cerca de 50% da população de idosos de São Paulo são aposentados. Os outros 50% dependem da ajuda alheia ou trabalham informalmente para garantir sua subsistência e recebem de 1 a 5 salários.
Remédios, moradia, alimentação e vestimenta são gastos que a aposentadoria não cobre, o idoso necessita então de sair em busca de trabalhos informais para complementar sua renda. Muitos aposentados ajudam, com suas aposentadorias, filhos e familiares desempregados. Às vezes, numa família, a única renda é a do aposentado. Sem contar o trabalho exercido pelos mais velhos, que levam e vão buscar netos na escola, levam para atividades extracurriculares, lavam, passam, fazem comida enquanto os mais novos trabalham fora de casa. Os familiares poucas vezes se dão conta de que se tivesse de pagar por esses serviços, o custo não seria abaixo de R$500,00 reais.
Infelizmente, a sociedade não valoriza seus velhos, a mudança não pode ser somente com o Estatuto, a sociedade teria de ser educada, alertada, preparada para conviver harmoniosamente com seus familiares idosos. O artigo 28, I, mostra a responsabilidade do Poder Público: estimular programas de profissionalização aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas.
O item II é a preparação dos trabalhadores para a aposentadoria com antecedência mínima de 1 ano por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania. Por último, o item III, estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho. Os programas que visam estimular empresas a contratarem idosos podem ser de grande valia, entretanto, é importante observar se os idosos não serão mal remunerados por empresários de má fé.
A resiliência e o vínculo com o trabalho
A palavra resiliência aparece na literatura com abordagens de diferentes autores e bastante diferenciada. Depois de muitas pesquisas sobre o assunto e entrevistas realizadas com idosos, podemos dizer que resiliência é o conjunto de vínculos construídos pelas pessoas no decorrer da vida que ajuda a ultrapassar as grandes dificuldades.
Os vínculos encontrados no estudo realizado no meu mestrado foram com o trabalho, a espiritualidade, religiosidade, solidariedade, a família. Outros vínculos podem existir e ajudar as pessoas. É imprescindível destacar que o vínculo por si só não é tudo. Deve haver uma interação entre vivência e atitude. Eles serão componentes fundamentais de superação para o indivíduo ter energia suficiente e continuar crescendo íntima e externamente.
Sabe-se que antigamente as pessoas encontravam nas empresas um elo de sobrevivência diferenciado. Criavam em seus empregos vínculos indissolúveis, trabalhavam vários anos no mesmo local, as pessoas com quem conviviam também eram as mesmas com quem passavam férias e finais de semana, afinal era uma grande família. Todos se conheciam, participavam dos problemas e felicidades de um ou de outro. Com o tempo isso foi se acabando, as pessoas já não permanecem muito tempo empregadas nos mesmos lugares, evitando assim vínculos maiores com os outros.
O homem tornou-se mais egoísta em seus procedimentos, as empresas já não valorizam tanto os empregados que ali permanecem por tanto tempo, a filosofia do trabalhador passou a ser ir em busca de novos desafios. E o que isso gerou nos empregados? Se não se criou o vínculo com as pessoas, mas sim com o próprio trabalho, quando ele cessa, o que fazer?
Culturalmente o homem era o provedor de sua família, era o único que trabalhava. Vamos devolver à empresa a fala do trabalhador. Como as empresas poderiam estar nomeando os funcionários mais velhos, mesmo sem ser assalariados? O vínculo com o trabalho assalariado também permite ao homem e beneficia o seu processo de vínculo com a vida.
Recentemente realizei uma pesquisa com idosos, cujo objetivo era perceber como eles enfrentavam a vida. O que foi constatado nas entrevistas foi que os idosos necessitam criar vínculos para sua própria superação, ligar-se a alguns vínculos durante a vida pode torná-la mais fácil, mais prazerosa. Vários vínculos foram demonstrados: política, solidariedade, religião, família. Entretanto, o trabalho para o idoso ainda é fundamental.
Os entrevistados mostraram ser possível vincular-se ao trabalho, tornando-o mola propulsora de desenvolvimento pessoal. Há necessidade do trabalho para que o ser não perca sua vontade de viver, de poder ser útil, mostrar a vivência de suas experiências para o outro e também dar um sentido especial à vida. O trabalho é fundamental para que o homem seja resiliente na vida adulta e na velhice.
Segundo Schirrmacher (Veja, pp.11-12 e divulgada no Portal do Envelhecimento no mês de setembro), o envelhecimento da população já começa a mexer com o mundo em vários aspectos, entre eles: econômico, político e cultural. As projeções para o futuro não são muito otimistas para os velhos. Para ele o envelhecimento já está sendo considerado uma Catástrofe Natural. É necessário que todos se preocupem com a realidade da longevidade. Ele apresenta, em sua entrevista à Revista Veja, as estatísticas do envelhecimento da população mundial, acrescentando que em 2050, na China, viverão tantas pessoas com mais de 65 anos quanto hoje em todo o mundo.
Destaca também o número de idosos no planeta: triplicará a população de velhos e o resto da população ficará em 50%. Na América Latina, segundo o autor, pessoas com mais de 80 anos será quatro vezes maior do que hoje. Um dado interessante trazido por Schirrmacher é que pela primeira vez na história, o número de velhos no mundo será maior que o de crianças. É claro que em sua opinião o mundo não está preparado para esse acontecimento. Ele destaca que 99,99% da história da humanidade as pessoas nunca viveram mais que 30 ou 35 anos. Com certeza, a experiência de ficar velho, de viver mais, é muito nova.
Antes eram projeções, hoje já começa a ser uma nova realidade, com uma diferença: as pessoas não se prepararam para viver mais e conseqüentemente as Instituições também não deram a importância devida ao assunto. As palavras de Schrrmacher não trazem muito incentivo à velhice, pois ele diz que ela não será confortável para quem chegar nessa fase, principalmente porque as pessoas terão de descobrir novos modos de viver, a sociedade terá de fazer novos arranjos.
É como se a população ganhasse o direito de viver duas vezes, mas sem dúvida, a segunda parte vai necessitar de muitos cuidados, atitudes, propostas. Nem sempre os que sobreviverem estarão ao lado de seus familiares. Talvez uma solução sejam comunidades para velhos.
Uma das questões proposta ao autor foi esse fenômeno demográfico em relação aos velhos, o que fazer com ele? Ele sugere uma revolução de pensamentos em relação aos velhos de nossa sociedade. Se eles continuarem a ser tratados com preconceito, à margem da sociedade, sem dignidade, sem trabalho, como seres improdutivos, sem memória, como fracos e estorvos, a metade mais nova vai esmagar a metade mais velha. Ele argumenta ainda a possibilidade dos idosos sentirem raiva de si mesmos por permanecerem na sociedade sem construir ou produzir nada.
Um detalhe desta entrevista é, sem dúvida, a questão do ser útil, trabalhar para poder se alimentar. O autor confirma a idéia: quem não trabalha mais se torna para a sociedade um ser desprezado. É uma questão cultural que terá de ser mudada com urgência. Em alguns aspectos a sociedade já está vivendo a transformação. A pílula contra a impotência masculina já começou a mudar a cabeça da sociedade. Imaginem sexo após os 60 anos, era um assunto totalmente descartado. Com certeza, o mundo deve se preparar para que o velho volte ao campo do trabalho. O que fazer? Como as empresas poderiam auxiliar?
Quatro trabalhadores americanos e europeus sustentam um aposentado, afirma Schirrmacher, entretanto, no futuro, essa proporção será de um para um, realidade impossível de ser vivida. Se a profissão permitir uma solução seria trabalhar mais. Segundo o autor, quem tem entre 30 e 40 anos e possui filhos deveria trabalhar menos e ganhar mais, pois precisam sustentá-los. Ele é contra a idéia de que os salários devem aumentar quanto mais tempo de serviço o trabalhador tiver.
Uma de suas propostas é dar ao velho as condições para abrir seus próprios empreendimentos, principalmente porque os bancos dificultam empréstimos acima de 60 anos. Um outro ponto da entrevista foi em relação à menor produtividade dos velhos. Ele é contrário a essa idéia, afirma que os idosos podem ser mais lentos ou menos vigorosos, porém compensam tudo isso com experiência e confiança no trabalho.
Um destaque do autor é incentivar os empresários a contratar os velhos para funções adaptadas às suas qualidades. Eles sempre serão produtivos se forem preparados para essa realidade. Além disso, os velhos também devem modificar sua própria imagem, talvez diminuir o culto à juventude tão presente hoje.
Segundo Schirrmacher, as pessoas que revolucionaram a moda, o consumo, a tecnologia no século XX (a geração baby boom), nos próximos vinte anos estarão aposentadas. Serão elas, que detém hoje 70% do poder de compra que darão início à revolução da terceira idade. Para o autor, todos que nasceram entre 1960 e 1980 devem se juntar nessa revolução, a tarefa será modificar o modelo biológico e cultural construído pela sociedade em muitos anos. Schirrmacher encerra sua entrevista com otimismo em relação ao envelhecimento, afirmando: “a ciência nos deu um grande presente: uma vida mais longa”. Ele incentiva aos mais jovens hoje a fazerem parte de uma nova realidade: um mundo dominado pelos anciãos.
Somos perecíveis, enquanto o granito e o diamante são duros, mas isso é ao mesmo tempo verdadeiro e falso, pois o que é duro e inanimado sofre um desgaste, frio, ventos, atritos, enquanto o que é vivo e frágil se renova. (Morin, p.246)
Não se pretende aqui apresentar mentiras e mistificações em relação ao envelhecimento. A matéria viva se desgasta, mas pode ser cuidada, é o que a medicina está fazendo hoje para que o ser alcance a longevidade. Seria maravilhoso pensar em chegar aos 100 anos, desde que houvesse estruturas sociais comprometidas com essa nova realidade. São sempre adiados projetos da previdência, os governantes pensam apenas em si mesmos, já que suas aposentadorias são especiais.
Dosse (2004, p.395) chama nossa atenção para a reflexão, a história pede isso, é um momento para interrogar conceitos, métodos de vida. A intenção deste artigo não é fazer previsões sobre o futuro do envelhecimento da humanidade, mas é para que possamos mais uma vez refletir sobre as possibilidades de inclusão do velho na nossa sociedade. Palavras ao vento não bastam, suposições já fizeram parte de sonhos que nunca se tornaram realidade.
Velhos chegaram à velhice e nada puderam fazer. É o nosso tempo, um novo tempo de construção, do fazer e não do falar. É o momento das ações conscientes e produtivas. Preparar os mais jovens para em primeiro lugar valorizar o que os velhos já fizeram, já realizaram com seus acertos e erros. Aceitar que a velhice não traz sabedoria por si só, pois a sabedoria é construída no indivíduo desde o seu crescimento, em todas as fases da vida. As desmitificações devem ser feitas, todas as fases da vida possuem seu enriquecimento e contribuem para a sociedade.
Aos jovens a certeza de que se viverem eles chegarão à fase chamada velhice e, aos velhos, a necessidade de continuarem a ser produtivos, buscarem novos objetivos de vida, querer desenvolver-se mesmo com as naturais perdas que o envelhecimento traz. Todos têm responsabilidade social com os velhos de nossa sociedade, amanhã outros terão conosco esse mesmo olhar, se a sociedade se preparar para isso.
A Mídia poderia cooperar mais, divulgando em campanhas publicitárias o Estatuto do Idoso, incentivando famílias a cooperar com o desenvolvimento do idoso, valorizando suas atividades no lar, não os deixando se sentirem inúteis. Profissões como alfaiate, chapeleiro, bordadeira, sapateiro são cada vez mais raras. Nos meados do século XX essas profissões estiveram no auge. É claro que competir com empresas não é uma tarefa fácil, mas poderiam ser incentivados a continuarem no exercício da profissão. As empresas poderiam, como já fazem algumas, propor encontros dos jovens com os funcionários já aposentados para troca de experiências.
Um outro seguimento para as empresas seria criar clubes ou comunidades onde os velhos pudessem se reencontrar e contar suas experiências que poderiam ser transformadas nas histórias de vida das empresas. Poderiam ainda, desenvolver meios que integrassem os velhos na vida das empresas. A informática poderia ajudar, pois seria um canal aberto a discussões. Enxergar o velho como um ser incluído na sociedade não é uma tarefa fácil. Se o velho for ouvido, com certeza ele poderá mostrar que não é incompetente, ele quer e precisa produzir e ser útil. Muitas empresas são dirigidas por empresários que já ultrapassaram os 60 anos e ninguém os mandou embora ou os achassem incompetentes, porque trabalham e com seu esforço e capacidades empresariais sustentam os mais jovens, que muitas vezes não estão preparados para assumir responsabilidades nas mesmas. O Sr. Ex Cofap, Sr. Abrãao Kasinski, Sr. Ermírio de Morais... são grandes exemplos de que o trabalho não tem idade, e que pode ser, sim, mola propulsora para o desenvolvimento do ser. Esse vínculo criado com o trabalho movimenta e dá energia para seguir adiante.
Os empresários, principalmente os que encontram no trabalho seu vínculo mais consistente com a vida, poderiam dar seus exemplos e criar condições para que seus funcionários não fossem para casa e se sentissem tão inúteis. Uma outra possibilidade possível seria como nomear os idosos, mesmo sem ser assalariados. As empresas com certeza possuem todo o mecanismo social para melhorar essa realidade. Elas são ouvidas pelo governo e pela mídia, elas podem criar projetos que auxiliem e muito a sociedade mais velha. É necessário que as empresas não desperdicem o vínculo que os empregados fazem com ela. Se criou seu vínculo com a empresa, deve-se evitar a quebra brusca, para que ele não deixe de querer viver, achando-se inútil. Com certeza, as empresas podem colaborar com o indivíduo, ajudando-os a viver mais uma fase da vida com luz, esperança e atividade.
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