Nova análise reduz o genoma humano Quando os cientistas anunciaram, com base nos primeiros rascunhos de seqüenciamento, que o genoma humano deveria ter em torno de 30 mil genes, muita gente achou pouco. Afinal, isso é bem menos do que o milho e não muito mais do que o verme nematóide C. elegans - uma vergonha genômica para a espécie mais evoluída do planeta. Mas eis que o número ficou ainda menor. De acordo com a análise mais refinada publicada até agora, o genoma humano tem entre 20 mil e 25 mil genes - o que nos coloca tecnicamente empatados entre o C. elegans e o rato. Os resultados fazem parte da última avaliação do Consórcio Internacional para o Seqüenciamento do Genoma Humano, projeto público que iniciou o processo de seqüenciamento em 1990. Rascunho O primeiro rascunho, feito em meio a uma corrida com a empresa Celera, foi anunciado em 2000 e publicado em 2001. A publicação de hoje, na revista Nature, traz a análise do seqüenciamento completo (99%), como concluído no ano passado. "Acho que não vai ficar muito melhor do que isso", disse o geneticista Sérgio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais. O 1% que faltaria ser seqüenciado, segundo Pena, equivale a regiões altamente repetitivas, sem interesse científico. A análise tem 99,999% de precisão, ou 1 erro a cada 100 mil bases nitrogenadas - as letras químicas A, T, C e G que compõem o DNA. Lixo evolutivo? Segundo o estudo, o genoma humano é formado por uma seqüencia de 3 bilhões de bases. Mas apenas entre 1% e 2% dessa sopa de letrinhas (a parte dos genes) realiza a função principal do genoma, que é codificar proteínas. Para que servem, então, os outros 98%? Seria apenas "DNA lixo", como veio a ser chamado? Sabe-se que ali estão contidas seqüências regulatórias, que auxiliam no funcionamento dos genes codificadores de proteínas. Mas a pergunta permanece. Parte da resposta está em outro artigo publicado, também na Nature, pela equipe do brasileiro Marcelo Nóbrega, do Lawrence Berkeley National Laboratory, na Califórnia. Pedaços de DNA Eles produziram centenas de camundongos geneticamente modificados, com dois grandes pedaços de DNA retirados do genoma, e esperaram para ver o que acontecia. Resultado: nada! Os animais nasceram, cresceram e se reproduziram como se nada estivesse faltando. "Não digo que 98% do genoma não tem função nenhuma, mas certamente tem áreas menos críticas, ou totalmente descartáveis", disse Nóbrega. As seqüencias deletadas, num total de 2,3 milhões de pares de bases, foram retiradas de regiões conhecidas como desertos gênicos, onde não há atividade perceptível. "Parece que no lixo tem muito lixo mesmo", brincou Nóbrega. ______________________ Fonte: O Estado de S. Paulo, 22/10/2004 |