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A reforma da previdência e o previsível aumento

na ocupação hoteleira pelo idoso turista

 

Maria Luisa Trindade Bestetti pesquisadora mentora

 

Estamos vivendo um momento de grave reflexão, relacionada às dificuldades do sistema previdenciário, mesmo tendo sido ele recentemente reformado. A longevidade cresce na proporção inversa à natalidade e a tecnologia restringe progressivamente os postos de trabalho. Ao invés de repensar a jornada de trabalho de oito horas semanais e manter empregado, as empresas apostam na máxima utilização da máquina como solução produtiva. Segundo Bertrand Russell, o trabalho não é o objetivo da vida, pois se fosse, as pessoas gostariam de trabalhar. No entanto, aqueles que de fato executam o trabalho evitam-no sempre que possível. Os únicos que alardeiam as suas virtudes são as pessoas em posição de comandar o trabalho alheio. Em “O Elogio ao Ócio”, ele já pressagiava o que hoje sentimos como perigo iminente: trabalhadores auferindo baixos rendimentos e cada vez mais aposentados sendo sustentados por poucos trabalhadores ativos. Até a década de 60, para cada brasileiro aposentado havia outros oito trabalhando. Hoje a relação é de dois para um.  Não é para menos que, mesmo buscando alternativas econômicas, o segmento da terceira idade consumidor de serviços hoteleiros ainda está restrito a um grupo reduzido de idosos brasileiros.

 

Mas a perspectiva notável é que, paulatinamente, as relações de trabalho passarão por uma reavaliação, tal como o sistema previdenciário brasileiro, já em evidente colapso. Estamos sendo forçados a uma sacrificante estabilização da economia, que provocou discussões a respeito da distribuição de renda e da necessidade do incremento da previdência privada como solução para grande parte da população brasileira. Baseando-se nisso, podemos considerar que o perfil do idoso brasileiro também passe, em médio prazo, à condição do europeu, canadense ou americano de classe média, exigentes no padrão de qualidade quanto aos serviços prestados na atividade turística, em especial na hotelaria.

 

Certamente esses elementos determinam uma equação incontestável pelos administradores de hotéis:

 

(renda estável + confiança) X (serviço especializado + programas atraentes) = fidelidade do consumidor idoso

           

O hóspede com renda estável e que confia no profissionalismo do empreendimento hoteleiro através da oferta de espaços confortáveis e seguros, além de pessoal treinado para atender suas especificidades, torna-se um consumidor fiel. Mesmo em tempos de globalização, onde até as relações pessoais são descartáveis, a troca justa fideliza o consumidor e o torna um propagador das vantagens que encontra no consumo desses serviços.

 

O setor hoteleiro, em processo de recuperação em um mercado massacrado pela recessão, chega ao ano de 2004 atento às novas necessidades do consumidor. Atender às especificidades dos diversos segmentos, em especial aos da terceira idade, determina alguns poucos investimentos que passarão a ser notados por esse público consumidor em franco crescimento, que possui renda estável, dispõe de tempo em qualquer época do ano e, exigente, percebe as sutis diferenças que tornam o empreendimento mais confortável e seguro. Cuidados nas relações interpessoais, na acessibilidade do edifício e nos setores de lazer, assim como flexibilidade no cardápio das refeições oferecidas, são requisitos indispensáveis para garantir um diferencial que torne o hotel atraente ao hóspede idoso.

 

Cada vez menos apegado aos objetos e com sistemas de transporte que oferecem flexibilidade em diversas faixas de preço, o homem contemporâneo demonstra que sua mobilidade o torna um pesquisador curioso pelas diferentes culturas, e que suas lembranças podem ser facilmente armazenadas por via digital, assim como seus compromissos financeiros podem ser programados e saldados à distância. A permanência prolongada em locais distantes da sua residência fixa, conciliando tempo ocioso com enriquecimento cultural, faz do segmento da terceira idade um público efetivamente mais interessante a cada ano, pois a medicina preventiva já garante que a iminência das doenças da idade não seja um obstáculo inibidor à aventura de viver viajando.

 

Contemos com isso num futuro próximo, não há dúvidas que esse é um nicho de mercado muito instigante a muitos prestadores de serviços, mas, especialmente no turismo, já começa a mostrar-se uma grata realidade.