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A VELHICE NOS TEMPOS ATUAIS

Mesa Redonda no 11o.Congresso Brasileiro de Psicodrama

por Dirce Fátima Vieira - psicoterapeuta

dirce.gif (9768 bytes)Refletindo sobre o tema proposto esta mesa: "Encarando a velhice nos tempos atuais", optei por falar sobre a melhoria da qualidade de vida do idoso, apesar do preconceito, discriminação e isolamento da sociedade para com o idoso e, da velhice ser encarada como decadência, doença e peso social. Notamos felizmente um tênue movimento da sociedade para rever esta cegueira política em relação a esta fase da vida. Sabemos como nós, "multiplicadores"podemos criar, sempre a corrente de sensibilização, por um lado na estrutura social e por outro no idoso pois este aceita passivamente esta relação. Neste processo, nós especialistas devemos ajudar a sociedade na quebra de preconceitos; na criação de novos conceitos; na importância de engajar o idoso através de sua sabedoria e experiência; dar apoio e incentivo através dos familiares e amigos e encorajar atitudes que esses pensam de que são capazes. Podemos também auxiliar os idosos, conscientizando-os de sua ampla responsabilidade pelo seu próprio envelhecimento: na importância de lutarem por um espaço nesta sociedade onde a valorização está no avanço tecnológico e no jovem. Nas últimas décadas, houve uma mudança no quadro populacional; é notável um aumento da população idosa em todo o mundo. Em decorrência deste crescimento e sua demanda houve um avanço da ciência em relação à velhice contribuindo e muito para a melhoria da qualidade de vida para as pessoas que adentram esta fase. Na virada do século, a expectativa de vida se ampliou de 50 para 80/90 anos; isto significa que podemos viver 1/3 a mais. A duração máxima da vida atualmente é de cerca de 120 anos. Esta longevidade se deve a melhoria da qualidade das condições econômicas e sociais e ao aumento dos níveis gerais de higiene e saúde. Estima-se que até o ano 2025 ocorrerá um aumento de 30% na população de idosos. O país -estado precisa urgentemente rever a sua postura com este ex-jovem participativo na engrenagem social. Para esse, a imagem da velhice ainda é associada ao sofrimento, à decadência, às doenças e às filas do INSS. Salvo ocorram profundas mudanças na política governamental tanto no que diz respeito à assistência médica quanto à previdência, ocorrerá forçosamente um agravamento das condições da previdência dando o aumento previsto da população idosa. A nossa estrutura hospitalar está voltada para a população infantil. O modelo de previdência é inconsistente. As possíveis mudanças estruturais responderão pela melhoria da qualidade de vida da população, mas também, haverá necessidade de novos conceitos quanto à velhice, pois só esses, ancorados na moderna ciência do envelhecimento ajudarão a construir condições sócio-culturais favoráveis à uma boa velhice. Mas felizmente já é possível identificar um outro movimento expressivo e crescente dos próprios idosos, conscientes, atuantes, que não aceitam esta relação de total abandono, conseqüentemente não o contemplam tão passivamente. Com mais energia e disposição participam de pequenos grupos da vida familiar, da comunidade: e a sociedade como um todo terá que forçosamente rever esta relação. Será lamentável se a cegueira política impedir a consciência desse fenômeno. Espero ansiosamente que, os idosos não sucumbam inconscientemente à antiga postura cada vez mais conscientes e unidos provoquem tal mudança. Podemos observar que seguimentos da sociedade, timidamente, se abrem para esta nova demanda. A mídia começa a utilizar o idoso como parte atuante no seu merchandising, o turismo descobre uma população com recursos econômicos, tempo disponível, querendo diversão oferecendo produtos direcionados para os mesmos. As telenovelas começam a usar homens e mulheres maduras como símbolo de sensualidade; mostra núcleos familiares com modelos de idosos centrados, equilibrados e participativos na dinâmica familiar, profissional e pessoal. Na publicidade e na moda surgem modelos de 3ª idade como integrantes em seus books. Cria-se concurso de rainha da 3ª idade. Nos programas de auditório dá-se espaço para que as mulheres idosas falem de suas necessidades, carência afetiva à procura de um companheiro. Os clubes, bingos, salão de baile direcionam-se para esta faixa etária. As universidades abrem suas portas criando as universidades abertas para 3ª idade. Psicólogos, críticos de cinema e arte, professores de história, história da arte, academias etc., oferecem conhecimento para os mesmos. Cada vez mais encontramos bibliografias especializadas, revistas e jornais dando destaque e espaço para matérias referentes a esta faixa. O processo iniciou-se. O idoso hoje, encarando a velhice como uma etapa da vida, assim como foi a infância, a adolescência e a fase adulta e, quebrando o mito - declínio fisiológico e neurológico - não mais necessita esperar depressivamente a morte; conscientiza seus direitos, reconquista seu espaço e exerce sua cidadania. Tais pessoas não mais abrem mão de escolher o seu representante político, apesar de terem autorização de não fazê-lo. Tendo a consciência de que a leitura e estudos estimulam, mantendo seu tônus de raciocínio e de memória se atualiza e recicla. Com as descobertas de que a prática de esportes embora não retarde a senescência dos órgão, mas favorece o bom funcionamento de seu organismo, tanto quanto a alimentação adequada retarda estes declínios, os idosos se sentem mais potentes para envelhecer saudavelmente. A mulher, dada a quebra do mito da menopausa, fim da vida sexual e afetiva, ganhou mais autonomia e equilíbrio para entrar no período pós-menopausa com dignidade e feminilidade. Com base em seus recursos pessoais cria uma nova identidade social. Tem a possibilidade de utilizar a reposição hormonal, quando necessária, além de se utilizar da medicina preventiva, ginecológica e ortomolecular (método terapêutico que vê na diminuição de radicais livres um meio de desacelerar-o processo de envelhecimento e para tal usa doses elevadas de vitaminas). No homem, não resta dúvida que o envelhecimento é acompanhado por mudanças que podem ser sinais de insuficiência de testosterona; o tamanho e a força dos músculos declinam, a gordura corporal aumenta, os ossos lentamente perdem o cálcio e, o desempenho sexual diminui. Discute-se hoje a utilização da reposição da testosterona, assim como a reposição através da medicina ortomolecular, assim como o Viagra. Apesar de ainda não ter um consenso, pois tais estudos são muitos recentes, podemos afirmar que abriu um espaço importante para a discussão de assuntos tidos como tabus. Parafraseando o gerontólogo Marcelo Salgado é "Mais importante do que acrescentar anos à vida é preciso proporcionar vida aos anos". Apesar das alterações hormonais produzirem mudanças no corpo conseqüentemente na imagem corporal e na sua auto-estima, a pessoa idosa que consegue superar esta crise e criar, sua nova identidade corporal acaba diferenciando estética de beleza o que os faz sentir-se seguros e bonitos. Esse processo psicológico, bem elaborado pode proporcionar uma evolução afetivo-emocional. Essa nova energia leva o idoso a criar um novo estilo de vida, abertos a novas experiências, interesses específicos, relacionamentos qualitativos e mais dispostos para participar de atividades culturais. Apesar de cada vez mais grupos, pesquisadores e instituições constituírem um movimento de estudo com relação a velhice, podemos afirmar que estes avanços ainda estão na infância. Não obstante verificamos uma crescente participação da psicologia, das ciências sociais, da filosofia e da gerontologia. Considero velhice bem sucedida como uma condição individual ou grupal de bem-estar físico, social, emocional e espiritual. Trata-se de um delicado equilíbrio entre limitações e potencialidades, equilíbrio este que lhe permitirá lidar em diferentes graus de eficiência como o status quo. Esta fase propicia viver a plenitude humana: harmonizar suas vivências de amor, de trabalho e lazer. Infelizmente essa harmonia é vivida por uma pequena parte da população. O envelhecimento, nesta fase, abre então um possível período de florescimento de sua pessoa social, o acesso a um "saber" feitos de experiência e acompanhado de lúcida indulgência. ver e tratar o idoso como improdutivo e incapaz, pois isto dificulta a integração social do idoso, evitando novos conceitos sociais sobre a velhice. Quanto à família espera-se que entendem a dependência do idoso, propiciando a este relações afetivas necessárias para a sua segurança e considerando as oscilações entre dependência e autonomia. Ao dar melhores condições de acesso a atividade física, profissionais e sociais, por parte da família e dos amigos, muito se contribuirão para o equilíbrio físico, intelectual, afetivo-emocional e espiritual não final da vida. Caso contrário estamos contribuindo para uma velhice neurótica que traz consigo a máscara do horror, do sofrimento, da solidão e depressão. Como a última contribuição gostaria de reafirmar como psicoterapêutas de idosos, temos que reconhecer a realidade solitária destes e, oferecer uma real aceitação, pois só assim podemos assegurar que, como nós, a sociedade também poderá ter interesse nele. Caso contrário, estamos repetindo o que a sociedade-família faz: cumprimenta-o com um olhar caridoso e cheio de pena, para em seguida abandoná-lo. Ajudá-los também, a entender que apesar da doença e da morte estar sempre ameaçando seu futuro, a qualidade de vida pode intensificar o seu presente. Dar ensejo ao idoso para que se orgulhe de sua existência em nome de seu passado, que é muito desvalorizado pela sociedade sem tradição. A sociedade deve ser platéia para que o idoso possa transmitir sua caminhada existencial e a sabedoria decorrente.

Dirce F. Vieira Psicoterapeuta, Prof. Supev pela FEBRAP, Sedes Sapientiae e SOPAV