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Sanguessugas terapêuticos 

Em estudo com 400 pacientes com osteoartrite, pesquisadores alemães verificam que 80% tiveram diminuição nas dores após apenas uma semana de tratamento com os vermes


Parece filme de terror, mas a cena de sanguessugas grudadas na pele não está no cinema mas em diversos hospitais e centros de pesquisa espalhados pelo mundo. Os anelídeos de corpo achatado estão sendo usados, por exemplo, na remoção de sangue em áreas específicas de pacientes de cirurgias reconstrutivas.

A técnica é antiga. Há séculos que tais vermes, especialmente os da espécie de água doce Hirudo medicinalis, são empregados para promover sangrias ou em outras terapias. A novidade é que estudos recentes têm mostrado que a utilização é muito maior, podendo ser aplicados, por exemplo, para reduzir a dor em pacientes com osteoartrite ou mesmo para restaurar a mobilidade perdida com a doença.

Segundo reportagem na edição atual da revista Nature, Andreas Michalsen e Gustav Dobos, da Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, têm realizado testes clínicos para estudar os efeitos da sanguessuga na osteoartrite, uma condição degenerativa que causa inflamações e dores e afeta 20% das pessoas com mais de 65 anos.

Em diversos experimentos preliminares, incluindo um com 24 voluntários, os pesquisadores colocaram até seis sanguessugas nas juntas dos pacientes, deixando-os ali por cerca de uma hora. Os vermes chegaram a ingerir sangue até dez vezes seu peso corporal.

Após apenas uma semana de tratamento, houve uma redução de 64% da dor indicada pelos voluntários. Os benefícios, segundo os cientistas, permaneceram por até três meses. “Após o tratamento, eu consegui até descer uma escada correndo”, disse Elfriede Klein, um dos pacientes.

Após os primeiros estudos, Michalsen e Dobos realizaram um muito maior, ainda não publicado, com 400 pacientes. O resultado foi ainda melhor, com 80% anotando uma significativa redução na dor uma semana após o tratamento. Seis meses depois, 40% disseram que ainda conseguiam perceber os benefícios.

O tratamento é indolor. “Ao aplicá-las, os pacientes sentem uma leve fisgada, mas em seguida não sentem dor ou qualquer outra sensação desagradável”, explica Michalsen.

Os pesquisadores alemães querem agora resultados mais conclusivos que indiquem os motivos do efeito verificado. “As sanguessugas não apenas tiram, mas também dão”, disse Dobos. “À medida que o verme morde, ele injeta um complexo coquetel de proteínas no hospedeiro, por meio da saliva. Isso pode ser responsável pelos efeitos terapêuticos.”

O que se sabe, segundo o cientista, é que a saliva do verme contém pelo menos uma molécula antiinflamatória, chamada de “inibidora da triptase derivada da sanguessuga”. Outra molécula conhecida produzida pelo animal é a hirudina, descoberta há mais de um século. Trata-se de uma proteína que impede a coagulação do sangue. Uma forma sintética de hirudina é vendida na forma do medicamento Refludan e os pesquisadores acreditam que muitas outros remédios derivados da sanguessuga serão descobertos no futuro.

A tendência parece certa. Algumas empresas já estão criando sanguessugas em cativeiro. Uma delas, a Biopharm, do País de Gales, vende mais de 70 mil desses vermes anualmente para usos clínicos. Nos Estados Unidos, a Leeches USA comercializa mais de 10 mil por ano, a sete dólares cada um.

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Fonte: Agência FAPESP, 05/11/2004