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População idosa é a mais pobre entre os pobres

Com baixos rendimentos e menos condições
de acesso aos cuidados de saúde

 

Bárbara Wong


A população idosa é dos grupos mais vulneráveis à pobreza e exclusão social: tem normalmente baixos rendimentos, baixos níveis de instrução, menos condições de acesso aos cuidados de saúde, bem como falta de alojamento ou bens que lhe permita algum conforto.


O artigo da "Revista de Estudos Demográficos nº35", do Instituto Nacional de Estatística (INE), intitulado "Pobreza e Exclusão Social nas Famílias com Idosos em Portugal", de Cristina Gonçalves e Catarina Silva, do departamento de Estatísticas Censitárias e da População, daquele instituto, conclui que os idosos são os mais pobres entre os pobres.


As autoras, com base nos dados do Inquérito aos Orçamentos Familiares de 2000, analisaram os dez por cento de população mais pobre e verificaram que cerca de um terço desta era constituída por pessoas com mais de 65 anos. Esta percentagem é muito superior quando se passa da análise geral para a particular, porque, em termos globais, os idosos representam apenas 15,4 por cento do total da população portuguesa.


A maior parte dos idosos que vivem abaixo do limiar da pobreza são mulheres (seis em cada dez), doentes (quase a totalidade do universo) e com pouca instrução (72 por cento diz não ter qualquer nível de escolaridade).


Estas pessoas vivem em alojamentos com poucas condições: cerca de oito por cento não tem instalações sanitárias em casa e seis por cento vive sem água canalizada - um por cento não tem água canalizada, electricidade, sistema de esgotos e instalações sanitárias.


Quando se observa outros bens e equipamentos, como máquinas de lavar roupa ou aparelhos de aquecimento, é entre os idosos sós que se verificam os valores mais baixos.

Pessoas sós com mais privações


Com base no critério de rendimento, que tem em conta as receitas monetárias e não monetárias, as autoras identificaram 20 por cento de agregados familiares que vivem em situação de pobreza. Destes, 31 por cento são constituídos por famílias com idosos, casais de pessoas de idade, ou idosos a viver sós. À medida que os agregados têm mais pessoas, o índice de pobreza segundo o rendimento tem proporções mais baixas. Apenas 12 por cento destas famílias pobres não têm idosos.


Se se olhar para as condições de vida, outro dos critérios adoptados pelas autoras, verifica-se que 23 por cento das famílias são identificadas como vivendo em situação de pobreza. Neste caso, um agregado é tanto mais pobre quanto maior for a acumulação de privações. Também nesta situação, são as famílias de idosos que sofrem mais privações: 50 por cento do universo é constituído por pessoas de idade a viver sós e 32 por cento são casais de idosos.


Portanto, os agregados familiares com idosos, especialmente os constituídos só por pessoas com mais de 65 anos, algumas que vivem sós, são os que estão mais representados no que se refere aos principais índices de pobreza.


No que se refere aos rendimentos e despesas das famílias, também são os mais velhos que menos gastos fazem, porque têm menos poder de compra. Em 2000, um adulto tinha uma receita média de 8800 euros. Este valor subia cerca de mais 1200 euros nas famílias sem idosos, mas baixava 1700 euros nos agregados com idosos. No caso das famílias sem pessoas mais velhas, a receita é proveniente sobretudo do trabalho (70,3 por cento), ao passo que as pensões representam metade da receita total dos mais velhos.


Quando se fala de despesas, são os agregados sem idosos que mais gastam (87 por cento da receita total respectiva). Do outro lado da tabela estão os idosos, para quem as despesas são mais pesadas, sobretudo para os que vivem sós e no caso dos casais de pessoas com mais de 65 anos.


As despesas dos mais velhos são essencialmente com habitação (água, luz, gás) - que representam um quarto do total dos gastos -, alimentação e saúde. Entre os agregados que vivem abaixo do limiar da pobreza, a ordem muda e a alimentação representa a maior classe de despesas de consumo.

 

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Fonte: Jornal Última Hora, 16/11/2004

http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1208513&idCanal=91