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Clones aos milhões na sua vida

 

Pouca gente sabe, mas na agricultura, a técnica é usada em laboratório no Brasil há mais de 30 anos



Alessandro Greco



Todos os dias, no Brasil, cientistas em mais de 50 laboratórios de universidades e empresas privadas pegam árvores frutíferas - banana, uva, morango, laranja -, além de cana-de-açúcar e plantas ornamentais, como violetas e orquídeas, e clonam.


Sim, tiram pedaços de uma bananeira saudável, por exemplo, e criam milhares de mudas idênticas a ela, pequenos clones, vendendo-os aos produtores.


Tudo para acelerar a reprodução destes bons exemplares e, obter, ao fim, uma fruta melhor e mais saborosa, uma muda mais resistente a pragas, mais adequada ao clima.


Mas, surpreendentemente, pouca gente sabe que fazer clones na agricultura, no Brasil, é uma atividade que tem mais de 30 anos.


Um dos introdutores da técnica foi o hoje professor aposentado Otto Crocomo, da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). ‘Começamos em 1971 com a samambaia’, conta ele, que fundou e dirigiu por 11 anos o Centro de Biotecnologia Agrícola (Cebtec).


A clonagem em plantas até ajudou a salvar o eucalipto no Brasil na década de 70, quando o cancro dizimou a plantação dessa árvore no Espírito Santo e se espalhava por outros estados.

‘A única opção rápida foi fazer clones daqueles que eram resistentes e não haviam sido destruídos pelo cancro’, diz o professor da Esalq Antônio Natal Gonçalves, ex-aluno de doutorado de Crocomo e que trabalha na área desde 1972.


O grupo de Crocomo criou 252 clones diferentes de eucaliptos para a Duratex, do grupo Itaúsa. Já o Cebtec fez, por exemplo, 3 milhões de clones de morango no total. No caso da cana-de-açúcar, a reprodução é via clones.


‘Toda a multiplicação da cana comercial no Brasil é feita assim’, diz o engenheiro agrônomo Paulo Leite, presidente da Canavialis, que, entre outras atividades, produz mudas, livres de doenças comuns, e as vende a agricultores do país.


A parceria entre empresas e universidades no caso dos clones na agricultura é prolífera e antiga. ‘No final dos anos 80, trabalhamos 5 anos com a Votorantim para livrar a laranja do vírus tristeza, que destruiu muito da plantação no Brasil’, conta Crocomo.


No caso da laranja, a clonagem é até fundamental. ‘Se você for plantar a partir de semente, ela terá primeiro uma fase juvenil, com espinhos, e ficará com uns
10 metros de altura. Se você clonar uma laranja adulta, ela não terá a fase juvenil e ficará com uns 4 ou 5 metros’, explica Gonçalves.

Casos naturais


Há também os casos em que a própria natureza, sem ajuda do homem, faz clones, como ocorre com espécies do cerrado e da mata atlântica. ‘Ipês e jequitibás, de modo geral, são clones’, afirma Gonçalves. Recentemente ele fez um projeto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de clonagem da Cryptomeria japonica, conhecida popularmente como o pinheirinho de Natal.


E outras espécies deverão começar a ser estudadas e clonadas por ele em breve, em colaboração com a pesquisadora Luciana Di Ciero, do laboratório de recursos genéticos e biotecnologia florestal da Esalq, e a Fapesp. Uma delas é a babosa.


‘Ela é interessante para a agricultura familiar, pois precisa de pouco espaço, 5 mil metros quadrados, para ser economicamente viável’, diz Luciana.


Hoje quem entrar na sala de crescimento do Cebetec verá vários milhares de mudas de, por exemplo, banana-maçã, nanica e prata em pequenos potes de vidro numa sala limpíssima.

São basicamente clones, filhos idênticos de algumas poucas matrizes escolhidas a dedo por produtores, que viram nelas características interessantes enquanto elas estavam no campo.

Após atingirem certo estágio, as mudas vão para a casa de vegetação, onde se aclimatam e crescem mais um tanto até o belo dia em que o caminhão de um produtor encoste do lado de fora para levá-las para o campo.


Na safra seguinte, o ciclo se repete e, como gosta de dizer Gonçalves, vivemos cercados de clones.

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Fonte: O Estado de S. Paulo, 10/11, reproduzida no JC e-mail 2644, de 10/11/2004.