TERCEIRA IDADE
Nem tudo está perdido quando o idoso se recusa a participar das sessões tradicionais de fisioterapia. Quando falta motivação para encarar um programa de exercícios, dizem os especialistas em Terapia Assistida por Animais (TAA), um cãozinho de estimação pode ser o personagem que falta para promover a reabilitação e aumentar a auto-estima dos idosos. Apesar de o trabalho de terapia com animais ter iniciado em 1792, pela instituição inglesa Retiro York, os especialistas na área só vieram perceber os benefícios da TAA em pacientes com desordens mentais e físicas em 1942. Nas pessoas mais velhas, a eficácia foi provada cientificamente em 1986, quando se verificou que pacientes socialmente isolados, acima de 78 anos de idade e com doença de Alzheimer, interagiram positivamente com um cão de terapia.
“As sessões, baseadas em atividades recreativas, servem para amenizar problemas emocionais, físicos e mentais dos pacientes”, informa a estudante de fisioterapia Leilianne Santana, uma das integrantes de um projeto pioneiro na capital pernambucana, baseado nas terapias que vêm apresentando resultados em centros brasileiros especializados, principalmente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e na Universidade de Brasília (UnB), que possuem programas bem avançados nessa linha.
Apresentado em julho deste ano no Encontro Nordestino de Estudantes de Fisioterapia, em Natal (RN), o programa recifense é uma iniciativa da Faculdade Integrada do Recife (FIR), em parceria com o Abrigo Cristo Redentor. Ali, um grupo de idosos conta com os efeitos benéficos que o ‘terapeuta de estimação’ pode oferecer. Durante a terapia, são utilizados exercícios a partir da utilização de bolinhas, coleiras e lenços.
“Gosto muito de jogar bola com ela, de fazer carinho no pêlo.Quando as brincadeiras acabam, sinto-me mais tranqüila. As atividades também servem para ocupar o tempo e evitam que eu fique pensando em bobagem”, conta dona Terezinha Barbosa, ao se referir às sessões das quais Pandora (cadela de estimação do abrigo) participa. Na lista das tarefas, estão os passeios e a escovação do animal, que ajudam o paciente a ter consciência dos movimentos do corpo.
Segundo a coordenadora da pesquisa no Recife, a fisioterapeuta Goretti Fernandes, a interação com o animal traz uma resposta teurapêutica positiva para os idosos sem que eles percebam. “Os movimentos melhoram a função motora, a mobilidade e o equilíbrio, além de servir contra a solidão e a depressão”, assegura Goretti, cuja experiência, ao lado das alunas, provou que o animal pode reverter a desmotivação e conseguir que os exercícios passem a ser feitos com entusiasmo.
“Ao lado de Pandora, percebo que fico menos estressado”, revela Severino da Silva, 61, residente do abrigo que faz questão de fornecer recompensas (como biscoitos) à cadelinha quando ela faz o trabalho bem-feito. “É importante gratificar o animal para que ele fique motivado a participar das tarefas”, diz a estudante de fisioterapia Katarina Silva. Os profissionais responsáveis pelas sessões devem ficar atentos a alguns cuidados.
“O cachorro tem que ser dócil e obediente. O idoso também não pode ter medo do animal para que o resultado seja eficiente.” As sessões, que geralmente duram 45 minutos, podem ser realizadas duas vezes por semana e monitoradas por um fisioterapeuta. É indicado que, mensalmente, sejam avaliadas a capacidade funcional e a qualidade de vida dos idosos.
SAIBA MAIS
1) Depois de escolher o cão ideal para a terapia, os idosos, monitorados por um especialista, fazem exercícios de alongamento para preparar o corpo para as atividades. 2) Em seguida, eles podem trabalhar os órgãos sensoriais através de toques e massagens no pêlo do animal com as mãos e com os pés. 3) Para ter consciência dos movimentos, é preciso fazer exercícios com os membros inferiores e superiores. Os idosos podem fazer caminhadas e jogar bolinhas para que o cão possa apanhá-las. Os pacientes também podem formar uma fila e passar o alimento (ração ou biscoito) de mão em mão até que este chegue ao último integrante do grupo, que deve entregar o ‘brinde’ ao cachorro.
ONDE PROCURAR AJUDA – Clínica de Fisioterapia da FIR: 2101-8300 – Abrigo Cristo Redentor: 3251-3092 – Projeto Cão do Idoso: www.projetocao.com.br – Therapy Dogs:
MAIS INFORMAÇÕES O projeto realizado no Recife, atualmente, é 100% filantrópico e voluntário. A clínica de fisioterapia da FIR e o Abrigo Cristo Redentor buscam parcerias com canis, clínicas de veterinária e voluntários interessados em participar da TAA e em inscrever animais para participar do programa. _______________________ Fonte: Jornal do Commercio, 24.10.2004 |