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Acessibilidade como direito do hóspede que busca conforto e segurança nos hotéis

Por Maria Luisa Trindade Bestetti – pesquisadora mentora 

Ao imaginarmos o cadeirante como um indivíduo desabilitado para locomoção, passamos a considerá-lo raro nos meios de hospedagem, mas há aqui uma pergunta que se sucede à outra: os apartamentos adaptados são pouco procurados porque há poucos portadores de necessidades especiais ou esses indivíduos não viajam porque as condições de acessibilidade em geral são, ainda, discutíveis? Tal questão vem sendo propagada de forma acelerada nos últimos anos, pois faltam cuidados com espaços públicos, a começar pelas ruas e veículos de transporte, o que impede pessoas com mobilidade reduzida de se deslocarem com autonomia. Os arquitetos têm sido sensibilizados com essas situações para elaborarem projetos que permitam o uso do maior número possível de pessoas, estimulando a inclusão social.

Independente da existência de leis e normas, que obrigam os estabelecimentos a se ajustarem às necessidades de acesso, a existência de barreiras extrapola a percepção de elementos visíveis. As barreiras invisíveis, aos poucos passando à pauta das discussões sobre inclusão social, provocam reflexões sobre os hábitos e a cultura do brasileiro, impregnada de preconceitos que inibem a presença de pessoas ditas “anormais”. Porém, existem cerca de 14,5% de brasileiros que portam deficiências físicas, e um número ainda mais significativo de outros que possuem outras necessidades especiais. Nesse grupo incluímos os obesos, os anões e outros indivíduos fora do padrão antropométrico médio, além de crianças até 6 anos e do idoso acima de 60 anos de idade.

A NBR 9050, que regulamenta dimensões, padrões e dispositivos que garantam conforto e segurança aos portadores de necessidades especiais, foi recentemente revisada para incluir esse novo grupo detectado como usuário potencial desses equipamentos. Portanto, ao pensarmos em espaços “adaptados” devemos pensá-los simplesmente adequados a todos, dentro do princípio de Desenho Universal, que garante acesso de modo indiscriminado. Muitos hoteleiros sinalizam que apartamentos com banheiros adaptados são, muitas vezes, repelidos por hóspedes sem cadeiras de rodas ou outros tipos de órteses. Evidentemente, esse é um sinal claro do preconceito que acompanha grande parte dos cidadãos que, inconscientemente, associam a deficiência com doença. Mas há muitos movimentos no sentido de amenizar esse impacto negativo, até como resistência à possibilidade de que, algum dia, alguns deles também necessitem desse instrumento para moverem-se. Quando essa barreira do preconceito estiver mais bem assimilada, será possível perceber o quanto esses dispositivos minimizam esforços e aumentam a segurança com a sua utilização, sem ferir a dignidade do usuário.

E não basta apresentar um banheiro com barras de apoio se não houver o espaço necessário para a circulação com órtese. Também é imprescindível que o dormitório esteja composto de tal forma que os móveis atendam às necessidades de quaisquer hóspedes e permitam uma flexibilização com possíveis novos arranjos, atendendo às expectativas de um portador de necessidades especiais. Igualmente importante que todos os espaços complementares, tais como o restaurante, o lobby e outros serviços oferecidos permitam o acesso indiscriminado, sem provocar situações constrangedoras de apoiar o acesso ou redireciona-lo para entradas secundárias.

A legislação trabalhista brasileira já define que haja maiores chances de colocação profissional aos deficientes físicos, e isso faz com que eles freqüentem universidades e assumam atividades no mercado de trabalho, tornando-os mais ativos e participativos. O uso dos meios de hospedagem torna-se, pois, naturalmente crescente e necessário nesses casos, e aqueles que atenderem situações especiais com sucesso receberão o destaque merecido. Cabe aos profissionais da hotelaria, atilados com esses novos paradigmas, buscarem as soluções através de assessoramento profissional, para que não haja desperdício de recursos com investimentos com pouco ou nenhum retorno.

Pensar espaços acessíveis é pensar na segurança de todos os hóspedes, evitando desconfortos que possam causar incidentes desagradáveis. É hora de tratarmos desse assunto de maneira ampla e irrestrita, pois o mercado já conta com a participação de diversos indivíduos com necessidades especiais e todos reconhecerão, em breve, que qualidade de vida é o que, em suma, todo o ser humano almeja e deseja encontrar.