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Ser um idoso ou ser um velho
Jorge José de Jesus
Ricardo (Jocardo)
Balneário Camboriú-SC
IDOSA é a
pessoa que tem muita idade; VELHA é a pessoa que perdeu a
jovialidade. A idade causa a degenerescência das células; a velhice
causa a degenerescência do espírito. Por isso, nem todo idoso é
velho e há velho que ainda nem chegou a ser idoso.
O mesmo acontece com as coisas: há coisas que são "idosas" (antigas)
e há coisas que são velhas. Um vaso da Dinastia Ming (1368-1644)
pode ser uma antigüidade, uma relíquia que não tenha preço; um
outro, de apenas uns 50 anos ou menos, pode ser um vaso velho,
relegado a um depósito.
Você é idoso quando pergunta se vale a pena; você é velho quando sem
pensar responde que não. Você é idoso quando está pronto a correr
riscos; você é velho quando procura correr dos riscos. Você é idoso
quando sonha; você é velho quando apenas dorme. Você é idoso quando
ainda aprende; você é velho quando já nem ensina. Você é idoso
quando pratica esportes ou de alguma outra forma se exercita; você é
velho quando apenas descansa. Você é idoso quando ainda sente AMOR;
você é velho quando só sente ciúmes e possessividade. Você é idoso
quando o dia de hoje é o primeiro do resto de sua vida; você é velho
quando todos os dias parecem o último da longa jornada. Você é idoso
quando seu calendário tem amanhãs; você é velho quando seu
calendário só tem ontens.
O idoso é aquela pessoa que tem tido a felicidade de viver uma longa
vida produtiva, de ter adquirido uma grande experiência; ele é uma
ponte entre o passado e o presente, como o jovem é uma ponte entre o
presente e o futuro e é no presente que os dois se encontram. O
velho é aquele que tem carregado o peso dos anos; que em vez de
transmitir experiência às gerações vindouras, transmite pessimismo e
desilusão. Para ele, não existe ponte entre o passado e o presente,
existe um fosso que o separa do presente pelo apego ao passado.
O idoso se renova a cada dia que começa, o velho se acaba a cada
noite que termina, pois enquanto o idoso tem seus olhos postos no
horizonte de onde o sol desponta e a esperança se ilumina, o velho
tem sua miopia voltada para os tempos que passaram. O idoso tem
planos, o velho tem saudades. O idoso curte o que lhe resta de vida,
o velho sofre o que o aproxima da morte. O idoso se moderniza,
dialoga com a juventude, procura compreender os novos tempos; o
velho se emperra no seu tempo, se fecha em sua ostra e recusa a
modernidade.
O idoso leva uma vida ativa, plena de projetos e prenhe de
esperanças. Para ele, o tempo passa rápido, mas a velhice nunca
chega. O velho cochila no vazio de sua vidinha e suas horas se
arrastam destituídas de sentido. As rugas do idoso são bonitas
porque foram marcadas pelo sorriso; as rugas do velho são feias
porque foram vincadas pela amargura.
Em suma, idoso e velho, duas pessoas que até podem ter a mesma idade
no cartório, mas têm idades bem diferentes no coração.
Sou idoso (tenho quase 70 anos), mas espero que nunca fique velho.
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Artigo vencedor do 1o
Concurso Literário para a Terceira Idade, promovido pela
UDESC-Universidade do Estado de Santa Catarina, Fundação Viva Vida e
Conselho Nacional do Idoso, e publicado no livro "Poesias Contos
Crônicas"- Editora da UDESC-Florianópolis-1996, p.243 -244.
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